domingo, maio 15, 2016

Árvore Genealógica - Em busca das origens - como ler certidões antigas

Caros amigos, o post a seguir é uma tentativa de ajudá-los a ler e entender os registros de batismo, casamento e óbito da igreja católica a fim de que a busca por informações de seus ancestrais possa resultar na melhor experiência possível. Procurei falar o mais simples e didaticamente no intuito de lançar luz sobre suas dúvidas - clique nas fotos para aumentá-las. 
Muito boa sorte sempre!
FOTO 1
O registro acima é a certidão de batismo de minha octavó. Ao ler o registro, o que vocês conseguiram identificar? Uma rápida lida nos mostra o nome e o lugar de origem (no canto superior direito) e na primeira linha vemos uma data, certo? Para acessar as outras informações da certidão, tais quais nomes dos pais, padrinhos e padre, bem como seus lugares de origem, é necessária uma lida mais detida e atenciosa. 
Observem agora esta outra certidão na qual consta o registro de casamento de seus pais:

FOTO 2







Sem levar em consideração a data que eu pus no topo da imagem, o que conseguimos identificar numa rápida lida? No canto superior direito o nome dos nubentes e seu lugar de origem, no final da página a assinatura do padre, correto? Mas, no corpo do texto, o que se pode identificar?

É justamente esta a primeira dificuldade que um pesquisador vai enfrentar: a leitura dos textos. No entanto, por mais difícil que ela possa parecer à primeira vista, como diz o ditado: "com o tempo e a prática tudo se ajeita".

Levemos em consideração que os assentos de batismo, matrimônio e óbito vão seguir uma forma clássica, um ritual estabelecido pelo Concílio de Trento. Sendo assim, há uma fórmula, seguida mais ou menos à risca, que uma vez aprendida deixará o texto mais fácil de ser lido mesmo quando ele não esteja otimamente legível. Também, poderemos contar com o fato de um padre ou escrivão passarem anos numa mesma freguesia, daí, conseguimos nos habituar e reconhecer sua grafia após alguma leitura.

Decifrando os Assentos de Batismo:
Nos assentos de batismo sempre constarão o nome da criança, o lugar de origem (em Portugal), a cor da pele (no Brasil) escritos nas laterais e/ou no texto, o nome dos pais, o nome dos padrinhos e a assinatura do padre. Em Portugal também, geralmente, se verifica os nomes dos avós e os lugares de origem deles e, às vezes, as profissões dos pais e avôs.

Via de regra, os registros portugueses são assim: "no dia tal, do mês tal, do ano tal, batizei e pus os santos óleos a tal pessoa, que nasceu no dia tal, filha legítima de Pai e Mãe, do lugar tal. Foram padrinhos 1, de tal lugar, e 2 de tal lugar, do qual fiz este assento (no dia mês e ano como ut supra) o qual/que assinei". Se a criança era filha de pais que não eram casados na igreja católica, o registro trará apenas o nome da mãe, sem indicar que a criança era "filha legítima"; se a mãe era solteira, dirá que a criança é filha de pai desconhecido ou incógnito. Nesses casos, algumas vezes, o registro dirá que a mãe era "lavadeira", geralmente (mas nem sempre) um eufemismo para prostituta.

No Brasil, por sua vez, os assentos são assim: "No dia tal, do mês e anos tais, batizei solenemente e (pus os santos óleos) a Pessoa, nascida em tal dia, mês e ano, filha legítima de Pai e Mãe, foram padrinhos Estes e tocou a coroa de Nossa Senhora Este".  Se a criança era filha de mãe solteira, africana escrava ou indígena, o registro trará apenas o nome da mãe indicando que a criança era "filha natural".

Ainda no Brasil, por causa da divisão da sociedade em termos étnicos, na lateral do documento  e/ou no texto constará a cor da pele da criança ou do adulto batizando. O batizando branco teria ou não a cor indicada, mas mestiços, africanos e indígenas sempre seriam identificados como: índio, cabra (um dos pais era mulato e o outro preto), creoulo (africano nascido no Brasil sob os cuidados dos seus senhores), pardo (mestiço cujo um dos pais era eurodescendente e cuja pele não é branca), fulo (negro ou mestiço de pele amarelada e cabelo avermelhado), pardinho (usado geralmente para um indivíduo de pele parda, geralmente adolescente, que era alugado para trabalho), africano/preto (homens/mulheres nascidos na África ou crianças nascidas na África ou nos navios negreiros). Alguns assentos trazem também a etnia do escravo: mina, gêge, nagô, banto, etc.

Outra informação importante em relação aos registros de batismo no Brasil é que nas laterais pode-se também verificar as palavras "parvo" (quando o batizando era criança) ou "adulto".

Observe abaixo o registro da igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia, em Salvador, que ilustra, em caixas vermelhas, o que dissemos anteriormente:
FOTO 3

















Mário e Daniel eram brancos, filhos legítimos; Leocádio e Maria, pardo e cabra respectivamente, eram filhos naturais.

De posse dessas informações, ao procurar sobre seus ancestrais, o pesquisador deve sempre buscar os nomes dos batizandos, os nomes de seus pais e a data de nascimento e batismo. A busca pelos nomes dos padrinhos também é importante na pesquisa genealógica, pois geralmente estes eram parentes, provedores ou (no caso de pessoas não livres) senhores. Observe na foto 3, por exemplo, que o batizando Mário, meu bisavô, teve como padrinho seu tio paterno José Maria Dias Brandão e quem tocou a coroa de Nossa Senhora foi seu outro tio Abílio Dias Brandão.

Outra informação importante para traçar o perfil dos ancestrais, é identificar seu lugar de origem (no caso de Portugal) e a freguesia de seu batismo, pois era normalmente aí que ele residia e provavelmente onde seus pais se casaram e/ou onde sua mãe se batizou.








Aí temos um outro exemplo de certidão de batismo, de minha tetravó Alvina. No assento de batismo, podemos ler a data do batizado: 22 de outubro de 1837; sua cor: branca; a data de seu nascimento: 19 de fevereiro do mesmo ano; sua filiação legítima de Francisco Joaquim Caxoeira e Dona Luzia Maria de Santa Anna, e os nomes de seus padrinhos: o comandante das Armas Luiz da França Pinto Garcez e quem tocou a coroa de Nossa Senhora foi o tenente coronel Manoel Joaquim Pinto Pacca.

Como se pode ver, todos os registros de batismo até agora vistos, trazem as mesmas informações. Assim sendo, mesmo que os registros não estejam tão bem conservados e legíveis como esses acima, o pesquisador terá uma idéia de em que lugar do texto ele terá a informação que procura.

Decifrando os Assentos de Matrimônio:
Tal qual os registros de batismo, os assentos de matrimônio seguem também mais ou menos a fórmula estabelecida pelo Concílio de Trento.

Neles vão constar:  os nomes dos noivos (geralmente nas laterais e sempre nos textos), a data do casório, o lugar/freguesia de onde vêm, os nomes dos pais ou mãe (em Portugal, várias vezes, os nomes dos avós e algumas vezes a profissão dos pais e avôs), os nomes dos padrinhos e seus lugares/freguesias, mais a assinatura do padre ou pároco. No Brasil, ainda constará a informação de se os nubentes eram brancos ou não, e, se escravos, suas nações e os nomes de seus senhores.

Isso tudo introduzido geralmente pela fórmula:  No dia tal, do mês e ano tais, se receberam em matrimônio em minha presença (ou "de licença minha"), corridos os banhos (banhos = informações sobre o estado civil dos noivos, sua conduta, etc.)/ dispensados os proclamas (quando não havia a necessidade de correr os banhos) e sem impedimento algum, na igreja/paróquia/oratório particular na forma do sagrado concílio tridentino, o contrahente tal/Nome  (do lugar tal [se em Portugal]), filho legítimo de pais /natural de mãe/de pai desconhecido/de pai incógnito (do lugar tal [se em Portugal]), e a contrahente tal/Nome (do lugar tal [se em Portugal]), filha legítima de pais /natural de mãe/de pai desconhecido/de pai incógnito (do lugar tal [se em Portugal]), tendo como padrinhos Estes e como testemunhas Aqueles, do qual/que fiz este assento e assinei no dia, mês e ano ut supra.

Vejamos dois exemplos da minha própria árvore para tornar mais fácil o entendimento do que foi dito anteriormente. Comecemos pelo assento de casamento de minha tetravó Alvina, cujo batismo já vimos acima:


















Em verde se lê os nomes dos noivos: Antônio Joaquim Rodrigues Pinto e D. Alvina Luiza Caxoeira; Em roxo lemos a data do casório: 21 de fevereiro de 1857; sublinhado de preto vemos o lugar onde ocorreu o casamento: Oratório particular do excelentíssimo Barão de Pirajá; em laranja vemos os nomes dos padrinhos/testemunhas: o Barão e Baronesa de Pirajá e Sinfrônio Domingos dos Santos; em amarelo sabemos que os noivos eram brancos; em azul, que eles eram naturais desta cidade (de Salvador); e em vermelho vemos que são filhos legítimos do finado Joaquim Rodrigues Pinto e Dona Carolina Amália de Mattos; do finado Francisco Joaquim Caxoeira e Dona Luzia Maria Caxoeira.

Agora vejamos o registro de dois dos meus heptavós em Portugal:






















Em verde lemos os nomes dos noivos: Ascenço Martins e Joana Antônia de Sequeira; em roxo lemos a data: 09 de maio de 1735; sublinhado de preto vemos o lugar do casório: Igreja parochial de (São Miguel de) Foz de Arouce; em vermelho vemos os nomes dos pais dos noivos:  Manoel Dias, já defuncto, e Maria Martins (do lugar de Val d'Ayres - em azul); Manoel Antônio e Sebastiana Rodrigues, já defunctos (do lugar de Covellos - em azul); em laranja vemos os nomes dos padrinhos/testemunhas Joam Caetano, Manoel Simões, Vicente de Sequeira, do lugar de Covellos; e Leonardo de Sequeira, Tomé de Oliveira e Antônio Alves, do lugar de Foz de Arouce.

Assim, entendemos que todas as partes não destacadas podem ser consideradas acessórias, ou seja, não são de fato importantes para a obter a informação necessária sobre seus ancestrais. Dessa forma, toda vez que estiver diante de uma certidão de casamento antiga, procure direto pelas palavras que lhe digam quem eram seus ancestrais (nomes dos noivos, pais e padrinhos - os quais, via de regra, eram parentes) e as quais possam lhe dar suporte para montar sua história (data do casório, lugar onde este ocorreu, lugar de origem dos noivos e seus pais e padrinhos, etc.).


Decifrando os Assentos de Óbito:
Por mais mórbido que possa parecer, procurar informações nos registros de óbito é extremamente interessante e importante para o pesquisador. Através deles podemos ter um "fechamento" da história do parente estudado e saber sob que condições deu-se o seu falecimento, qual o status social desse parente, entre outros, a fim de podermos montar sua história.

A pesquisa dos documentos de óbito são também importantes do ponto de vista sócio-histórico, uma vez que nesses assentos podemos tomar conhecimento de pestes, guerras, etc. que assolaram o período em que nossos ancestrais viveram. Eu, por exemplo, descobri que houve um surto de cólera no Ílhavo (Aveiro, Portugal) em meados do século 18; e que no dia 25 de dezembro de 1810, dia de Natal, os franceses invadiram Foz de Arouce (Coimbra, Portugal) matando vários de seus moradores; mas que no mês de março de 1811, os moradores de Foz de Arouce, inclusive mulheres, pegaram em armas e mataram os combatentes franceses - está tudo registrado nos livros de assentos de óbitos das referidas freguesias.

Diferentemente dos assentos de batismo e matrimônio, os assentos de óbitos são extremamente curtos e fáceis de se ler, obviamente dependendo da grafia do padre.

Eles seguirão a seguinte fórmula:  data, nome, se era casado/a, solteiro/a, viúvo/a, idade, o que foi encomendo para o funeral, causa mortis (na medida do conhecimento médico da época), qual a cor de sua mortalha, se deixou filhos (alguns assentos não trazem esta informação), onde foi enterrado/a. Muitos assentos de óbito também trazem, na lateral, a informação "anjo" ou "inocente", indicando que o defunto era uma criança.

Vejamos dois exemplos de registros de óbitos no Brasil, sendo o primeiro o de minha tetravó Alvina, cujo batismo e matrimônio já lemos:







No canto superior esquerdo vemos seu nome: Alvina Luiza C. Pinto; no topo do texto vemos a data de seu falecimento: 22 de fevereiro do ano corrente (1879); entre as duas caixas em vermelho lemos a causa mortis: typho; sublinhado de vermelho (linha mais grossa) lemos o nome e a naturalidade: Ba(hia); em verde, sua idade: 41 anos; a seguir o nome do esposo: Antônio Joaquim Rodrigues Pinto; e, logo após, o lugar do sepultamento: Cemitério do Campo Santo.

O seguinte, é o registro de óbito de seu pai. Observem:
No canto superior direito lemos o nome: Francisco Joaquim Caxoeira. No topo do texto vemos a data: 7 de janeiro de 1851; sublinhado de vermelho a causa mortis: moléstia interna; em verde lemos a idade: 51 anos; a cor: branco; o nome da esposa: D. Luiza Maria Cachoeira. E o restante não sublinhado é o que nos mostra sua condição social através do rito da missa fúnebre e seu local de sepultamento: "encomendado pelo cônego  (que vestia pluvial), pelo sacristão e dezoito padres" - tudo isso era pago -, o defunto foi "amortalhado de hábito e enterrado no convento de São Francisco". 

Os assentos de óbito em Portugal dão o mesmo tipo de informação. 

Abreviações corriqueiras nos assentos de batismo, casamento e óbito:
Uma das coisas que mais me pareceram difíceis quando comecei minhas pesquisas foi interpretar as palavras constantes nos textos. Em boa parte dos assentos, os padres optam por fazer abreviações dos nomes, sobrenomes, meses do ano, títulos, etc. e isso pode ser um verdadeiro quebra-cabeças para quem se depara com um livro de registros pela primeira vez. Se, por exemplo, voltarmos à FOTO 1, no topo deste post, veremos que está escrito assim: "Aos dezoito dias do mês de outubro de 1683 eu baptizei a Anna fª de Antº Fez Forte e de sua mulher Mª Simoes do lugar de Algaça. PP Mel Miz f. de Antº Miz e Anna Miz mer. de Al. Fez do mesmo lugar de Algaça. Do que fiz este assento e o assinei Antº de Seixas".
Podemos observar que algumas dessas abreviações chegaram até nós hoje, como Mª para Maria e Antº para Antônio. Mas que raios é fª, Fez, Miz, Mer ou PP? Bom, fª = filha, Fez = Fernandes; Miz = Martins; Mer = mulher e PP = padrinhos

Observem agora esta outra certidão:

Lendo este assento de casamento de meus octavós, descobrimos que:
"Aos vinte e sete dias do mês de setembro de mil e sete sentos e nove se receberão em matrimonial en minha presensa nesta igrª de N. Sª da Assumpção de Semide Bento Simois fº de Antº Simois do lugar da Riba e de sua mer. Caterina Simois da fregª de Stª Mª da *Alifana de Poyares, e Escolastica Frª fª de Mel Antunes vendr de Semigde d'alem e de sua mer Antª Frª desta fregª e forão tts (...)"

No texto, as palavras abreviadas são: igrª = igreja; fregª = freguesia; Frª = Francisca; vendr = vendeiro (comerciante); tts: testemunhas.
*Na verdade, a Freguesia é Santa Maria de Arrifana, em Vila Nova de Poiares. Para mais informações sobre a freguesia, acesse nosso post: http://marciowaltermachado.blogspot.com.br/2016/03/europa-em-60-dias-coimbra-portugal-em.html

Segue uma lista com as abreviações mais comuns nos registros que encontrei de batismo, casamento e óbito:
7bro = setembro
8bro = outubro
9bro, Novbro = novembro
10 bro, = dezembro
Affo - affonso
Alexº. – Alexandre
Alz' = Alvares
Anta. – Antônia
Antes – Antunes
Anto = Antônio
Azdo = Azevedo
Brdo – Bernardo
C.na = Catarina
Carvo – Carvalho
Da = Dona
da Va = dita Vila
de prezte = presentemente
delegcas, deligas = diligências
Dis = Dias
Diz e Diz (com til sobre o i) = Diniz
do, da = Dito, dita
Dos dias = Domingos Dias
Dos, Das = Domingos, Domingas
Dtor = Doutor
E. R. Mce = espera receberá mercê
Evang’os =Evangelhos
feuro, feuro, Feuro = fevereiro
Fez – Fernandes
Fgra – freguesia
fo, fa = filho, filha
Fonca = Fonseca
Franco, franco, Franco, Frco, frco; Frca = Francisco, Francisca
Frco/ca – Francisco/a
frega ou fga = Freguesia
Frra, frra, Fera = Ferreira
Frz', ou frz' = Fernandes
Glz' ou glz' = Gonçalves
Hes – Henriques
Imo = Jerônimo
impedimto- = impedimento
in facie ecctiae = in facie ecclesiae (perante a igreja)
J – João
Janro, Janrro, Janr = janeiro
Je. – José
Jhs'., ihus'., Jhus. = Jesus
Joph. = Joseph ou José
l.o., ou legit.o, legita, legta, legta, legma = legítimo, legítima
Lço – Lourenço
Lxa ou Lixa = Lisboa
Ma = Maria
Ma dias = Maria Dias
Mda – Madalena, Magdalena
Mel = Manoel
Mgda – Margarida
minha lça = minha licença
Miz/s – Martins
miza = Misericórdia
Montro, montro = Monteiro
mor, mora = morador, moradora
Mrco = Março
Mz = Munis ou Martins
N. Sra = Nossa Senhora
nal = natural
nal da V.a = natural da vila
nascidos de hum ventre = filhos gêmeos
nesseco = necessário
P. C. = passar carta, dar autorização
pa = para
Pe = Padre
Po ,Po. = Pedro ou Pero
preztes = presentes
Prº de baixo – Pereiro de Baixo
Prra,prra, Pera = Pereira
pva - Paiva
q' = que
q' Ds'. guarde como deso. = que Deus o guarde como desejo
ribro = Ribeiro
Rois, Roiz, Roiz’ = Rodrigues
S.er = Senhor
Sagr. Con. trid. e Constoe(n)s deste Arc. = Sagrado Concílio Tridentino e Constituições deste Arcebispado
Seqra – Sequeira
SMq'Ds'., SMDs'. = Sua Magestade que Deus guarde
Snra. = Senhora
Suppte, suppte = suplicante
Teixra., teixra., teixra = Teixeira
testas ou tas = testemunhas
V. Illma e Rma = Vossa Ilustríssima e Reverendíssima
Va = Vila
VM, Vmce = Você, o Senhor, a Senhora
X = Cris (como em Cristo)

Xer = Xavier


Espero ter lançado uma luz na leitura dos seus documentos.

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quinta-feira, maio 05, 2016

Árvore Genealógica - Em busca das origens - Nomes e Sobrenomes Portugueses




















Onomástica
substantivo feminino
1.relação, coleção, lista de nomes próprios.
2.ling estudo linguístico dos nomes próprios; onomástico, onomatologia [Compreende várias subdivisões, como a antroponímia, a astronímia, a mitonímia, a toponímia etc.].

Imagine que para falar com você em seu escritório as pessoas dissessem à sua secretária: "a mulher/o homem que tem cabelo curto, pesa tantos quilos, tem olhos pequenos, nariz adunco, pescoço curto e usa óculos, está?", e a secretária respondesse: "Você está falando da mulher/ do homem que tem cabelo curto preto brilhante, pesa tantos quilos, tem olhos pequenos meio arredondados, nariz adunco com um sinal na ponta, pescoço curto com duas dobrinhas, usa óculos redondos iguais aos daquele cantor ou está falando da mulher/do homem que...?". Além de demorar um século com os pormenores para descartar qualquer semelhança com outra pessoas, seria algo muito estranho, não é?  

Especialmente se lembrar daquela emoção que tomou você por inteiro quando chamaram seu nome na sua colação de grau ou uma premiação muito importante; ou quando o sacerdote/juiz de paz pediu que você repetisse o seu nome e fizesse seus votos de matrimônio para a pessoa amada; ou de como seu coração acelerou quando aquela pessoa especial falou seu nome para que todos ouvissem ou sussurrou-o em seus ouvidos; ou quando você, se sentindo só em algum lugar, ouviu uma voz conhecida lhe chamar.
Seu nome faz você se inserir no mundo, se diferenciar dos outros, interagir com a sociedade; transforma você em um individuo em meio à multidão de bilhões de outras pessoas, cria a sua identidade e faz com que você seja único e especial.

Por essa razão, os primeiros homens sentiram a necessidade de nomear os membros das suas famílias
e de suas tribos, de individualizar cada uma daquelas pessoas. Afinal, tão necessária quanto é para nós hoje, uma única palavra pela qual se pudesse identificar o sujeito era importante para que nossos ancestrais pudessem se referir a, interagir com, dissociar os membros do clã ou tribo uns dos outros.
Esses nomes, a princípio, eram palavras que representavam um momento marcante ou um feito, ou uma característica do indivíduo. Há na Santa Bíblia, por exemplo, dois episódios que ilustram bem isso: Moisés, "porque foi salvo das águas"; Jesus, "pois ele salvará o seu povo do seus pecados" (Yeoshua = Salvador).

Seu valor  na cultura humana é de uma relevância tão grande que os membros de algumas tribos indígenas americanas chegam a ter dois nomes próprios: um, com o qual ele é conhecido na tribo; e o outro que apenas é conhecido por sua mãe - pois caso algum mal espiritual lhe suceda, sua mãe poderá resgatá-lo no mundo etéreo sussurrando em seus ouvidos o nome que somente ela conhece. Os gregos, por sua vez, davam aos seus filhos nomes que os identificassem diante da sociedade até que eles os trocassem, depois de adultos, conforme algum feito heróico ou chamado espiritual. Tome-se por exemplo, a história de Héracles (Hércules), que se chamava Alcides (força física - lembrem-se que ele estrangulou duas serpentes enquanto ainda estava no berço) e que, devido ao vaticínio do oráculo de Delfos sobre as glórias que lhe adviriam depois dos 12 trabalhos impostos por Hera, tornou-se Héracles (Glória de Hera).

Ainda hoje, o costume de nomear os filhos por causas significativas ou traços físicos é mantido por povos aborígenes e/ou indígenas em todos os continentes.
Na sociedade de costumes modernos, no entanto, nomeia-se alguém por motivos diversos. Dá-se às crianças nomes que homenageiam ascendentes, heróis, ídolos; ou nomes que os tornem únicos no mundo. - Uma prima de minha mãe, por exemplo, chama-se Marb, sendo que cada uma dessas letras corresponde ao nome e sobrenome de sua avó paterna (Maria Antonieta Rodrigues Brandão), o que além de homenagear um ente querido, fez com que ela, sem sombra de dúvidas, saiba quando alguém quer lhe falar devido à singularidade do seu nome, afinal, quantas Marbs você conhece?
Outra forma de dar-se nomes às pessoas acontece por motivos de conversão à vida religiosa de vários credos, ou por carreira artística (Agenor de Miranda Araújo Neto - Cazuza) ou política (Luis Ignácio da Silva - Lula), e ainda por muitas outras razões, tal qual porque a pessoa não gosta do nome que os pais lhe deram ou porque acreditam que o apelido (alcunha, para os portugueses) que ganhou de amigos ou familiares e pelo qual é conhecido "pega melhor", etc.
Sendo como for, é o seu nome (dado ou escolhido) que o torna único no mundo mesmo que haja milhares de pessoas por aí que o compartilhem com você em formas e sons diferentes.

À propósito, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) fez uma pesquisa sobre a frequência do uso dos nomes no Brasil, a qual você pode checar aqui: http://www.censo2010.ibge.gov.br/nomes/#/search/response/569. Segundo eles, existem 466.140 Márcios, 67.207 Walteres. Fiquei curioso e fui ao Facebook ver quantos caras de nome Márcio Walter existem e achei 4 além de mim. 


A origem dos sobrenomes portugueses
Bom, centenas ou milhares de anos depois dos nomes próprios terem aparecido, começou a ser necessário o uso de uma outra palavra que identificasse o sujeito. Imagine que a lista de nomes disponíveis e aceitos pela convenção social era pequena, daí você pode pensar na confusão que era chamar seu filho ou seu irmão num grupo de 10 garotos de famílias diferentes que brincavam juntos e todos atendiam pelo nome de "Menino", ou se você precisasse ir ao juiz e denunciar seu vizinho cujo nome era "Próximo" como 7 dos 10 vizinhos que você tinha.
Para acabar com essa confusão, os povos antigos, como chineses e latinos, criaram nomenclaturas para diferenciar os nomes a partir do acréscimo dum outro (ou outros) nome(s). Os portugueses - que são o objeto do nosso post -, começaram a identificar pessoas homônimas de formas interessantes. Por exemplo, quando davam aos filhos o mesmo nome dos pais, a criança era chamada de "Novo/a" (o equivalente a Júnior ou Filho/a), e os pais eram chamados de "Velho/a" (a minha avó costumava chamar meu avô de Jaime Velho para diferenciá-lo de meu tio, Jaime Filho, reproduzindo, sem saber, um costume bem antigo). Daí, ao lermos sua certidão de casamento sabemos que Manoel Dias Novo (08.01.1748), meu hexa-avô, herdara o mesmo nome de seu pai, através de uma nomenclatura chamada "patronímico". Abaixo, listo algumas formas de sobre como apareceram os sobrenomes em Portugal, especialmente depois da imposição, pelo Concílio de Trento, dum segundo nome, ou nome de família, para toda criança batizada na igreja católica: 
O nubente (João Baptista Isac) tem como sobrenome o prenome do pai, Isac Pedroso (registro do livro de assento de casamentos da freguesia de São Pedro. SSa, Ba.)

Patronímicos: quando se referia aos filhos através do nome do pai. Por exemplo, João era filho de José, quando o padre escreveu seu assento de casamento ou óbito, ou alguém precisava identificá-lo, dizia: o João José (ou João, filho de José. Ainda hoje nas cidades do interior, principalmente, as pessoas dizem: você falou com o Felipe do João? (filho de João). Esse tipo de sobrenome ainda hoje resiste no Brasil. Por exemplo, tenho uma prima chamada Elizabete Duarte, também, há uma atriz brasileira chamada Mari Alexandre, tanto Duarte quanto Alexandre, que são prenomes portugueses, foram provavelmente ancestrais delas, seus nomes, portanto, são patronímicos.
Outra forma de patronímico português é feita através da sufixação de alguns nomes próprios a exemplo do que acontece em outros países europeus. Em Portugal, alguns nomes passaram a receber a terminação -ES e outros as terminações -IS/-IZ, -INS  para identificar a filiação. Por esta causa, João, que era filho de Pero se tornou João Peres;  Maria, que era filha de Lopo, se tornou Maria Lopes; Luciana, que era filha de Sancho, se tornou Luciana Sanches; Duarte, que era filho de Rodrigo, se tornou Duarte Rodrigues. Bem como Luiz, que era filho de Martim, se tornou Luiz Martins; Gustavo, que era filho de Simão, se tornou Gustavo Simoins, e, mais tarde, Gustavo Simões, e por aí vai.

Matronímico: quando os filhos são identificados pelo nome da mãe. Como por exemplo, Lucas de Paula, Cláudio Jovita.

Teóforos: nomes votivos a Deus, deuses, santos católicos ou anjos. João de Deus, Gabriel Santana (Santa Ana), Terezinha de Jesus, Eduardo Santa Bárbara, Francisco Saturnino (do deus Saturno), Danúbio Trindade (da Santa Trindade), Lucas Arcanjo, Jaciara dos Anjos, etc.

Toponímicos: quando o sobrenome evoca o lugar de origem ou de residência. Pedro Álvares Cabral (Pedro, filho de Álvaro, do lugar das Cabras), Antônio Francisco Lisboa (seu ancestral deve ter vindo dessa cidade), Demétrio Oliveira, Paulo Pinheiro, Lisa Carvalho, César (a)Moreira (porque seus ancestrais vinham de lugares que tinham como ponto de referência essas árvores), Leandro Almeida (alameda), Berardo Rocha, Rodrigo Rios, Frederico Dantas (do lugar das antas = dólmens), etc.

Antropomórficos: quando derivados de características físicas. Luíz Branco, Gustavo Mouro, Célia Forte, Marcos Penteado, Paulo César Grande, Lucas Barbosa (por causa da barba ruiva), Bruna Severo, Antônio Pinto/Carneiro (dócil), Ricardo Leão (bravo, forte, ou oriundo das cidades de Lyon - França- ou León - Espanha), etc.

Laborais: devido à profissão exercida. Pedro o Albardeiro, Carlos o Roldão, José o Tigeleiro, Antônio o Tecelão,  Paulo o Pastor, etc. Posteriormente os nomes perderam o artigo "o".

Entre outros, como por exemplo, em homenagem aos padrinhos, a criança recebia como último nome o prenome ou sobrenome de seu padrinho. Um dos meus trisavós, por exemplo, se chamava Domingos Ferreira da Silva Resende. No entanto, seu pai se chamava José Ferreira da Silva e sua mãe  Anna Rodrigues, o Resende era em homenagem ao padrinho. Se minha ancestral, sua filha, tivesse sido homem, e gerado filhos homens até a geração anterior à minha, eu provavelmente teria o sobrenome do padrinho de Domingos, que entrara para a família como nosso sobrenome. 

Os sobrenomes, no entanto, não tinham para os portugueses o mesmo significado que têm para nós hoje, era, na maioria das vezes, apenas mais um nome diferencial, geralmente escolhido aleatoriamente ou por uma das razões acima citadas, e que não passavam obrigatoriamente de pais para filhos. 
Conforme percebi lendo os inúmeros livros de registros da igreja católica a partir do século 16, as pessoas poderiam ter um ou dois "sobrenomes". Algumas delas traziam apenas o nome do pai, outros o do pai e o da mãe (nessa ordem, como é o costume espanhol adotado por alguns padres portugueses do passado; ou na ordem inversa, primeiro a mãe, depois o pai, como a ordem portuguesa), outros apenas o nome da mãe ou do lugar onde moravam, etc. Devido a isso, duas pessoas que tivessem o sobrenome Oliveira, por exemplo, e que morassem na mesma rua, não necessariamente seriam parentes, apenas morariam próximos a uma mesma oliveira que servia de referência a seus endereços.

O conto dos Brasões de Família
Muitos desses portugueses homônimos vieram para o Brasil, propagando os nomes de suas famílias em todas as regiões do país sem que tivessem entre si nenhuma relação de parentesco. Eles, vindos dos mais diversos lugares em Portugal, encheram o Brasil de Oliveiras, Machados, Pereiras, Souza, dos Santos, Silvas, Rodrigues, etc., sem que houvesse entre eles nenhum parentesco. Essa proliferação de sobrenomes iguais, no entanto, resulta interessante, quando, por exemplo, nos levam a olhar em redor com curiosidade todas as vezes que ouvimos chamarem alguém com nosso mesmo sobrenome. Me recordo que sempre que escutava ressoar o sobrenome Brandão, Machado, entre outros da minha família, logo me interessava em saber se a pessoa que compartilhava o mesmo sobrenome que eu poderia ser minha parente. Seria bom, por exemplo, ter um tio-bisavô chamado Machado de Assis, ou um primo-avô chamado Brandão Filho. Mas com a pesquisa genealógica, descobri, e.g., que Brandão (ou sua forma feminina Brandoa), era um nome próprio como Márcio ou João, e que era muito popular no Portugal seiscentista e setecentista e que, por isso, com o passar dos anos, muitas famílias que não mantinham nenhuma relação de consanguinidade adotaram-no como sobrenome.   
Certidão de batismo de meu penta-avô, Antônio Dias Brandão (notem que Dias é o segundo nome do pai e Brandoa o segundo nome da mãe), o qual deu o sobrenome de origem patro-matronímica à família de minha avó materna
(Livro de batismos da igreja católica, Arganil, Coimbra, Portugal.)
Dessa forma, infelizmente, a talentosíssima sambista Leci Brandão e eu não somos parentes, pois os únicos Brandão que mantém comigo laços de sangue comum são os descendentes do meu bisavô Mário, cuja família veio de Foz de Arouce e de Arganil em Coimbra, Portugal, deixando-o com a incumbência de continuar transmitindo o seu matronímico para as futuras gerações. Pois seus tios e seu único sobrinho morreram sem deixar descendentes, e sua tia casou-se com José Vaz Collaço, e deu aos seus filhos o sobrenome do pai deles.
Então, aqueles brasões de família que costumavam decorar meus cadernos ficaram sem sentido. Uma vez que não existe um ancestral único para as famílias portuguesas de mesmo sobrenome.

Por isso, a pesquisa genealógica, para quem quer conhecer a história do sobrenome de sua família é extremamente importante, se não pelo fato de saber a fundo de onde você veio, pelo menos, pelo conhecimento de sua ancestralidade que não permitirá que você pague rios e fundos pelo brasão de sua família numa dessas lojas de heráldica e pendure na sua parede um símbolo que nada tem a ver com sua história.
De posse do conhecimento da minha ancestralidade, eu mesmo fiz o brasão de minha família. Esse sim, é nosso. Convido você a fazer o mesmo, vale muito a pena, nos dá uma identidade coletiva única, uma sensação de pertencimento a um clã, e também é um passatempo muito interessante.
Abaixo, dois dos brasões da "Família" Brandão encontrados na internet, com os quais as lojas de heráldica ganham dinheiro propagando o mito do ancestral único.  




A questão dos semitas e africanos
Apesar de o Brasil ser um país fundado por Portugal, muitos de nós têm ancestrais que não são de origem portuguesa uma vez que da fundação do Brasil até o início do século 20, a grande maioria da população brasileira era composta por portugueses, cristãos-novos ou marranos (semitas convertidos à fé católica), africanos e indígenas.

Os semitas que foram obrigados a partir de 1492 a se converterem ao catolicismo, adotaram nomes cristãos ou aportuguesaram seus nomes (Baruch se tornou Bento, por exemplo). Como eram povos livres e de pele clara, tornaram-se "portugueses" sem muitos problemas (apesar da desconfiança dos fanáticos religiosos em relação à sinceridade de sua conversão). A muitos desses cristãos novos foram dados nomes católicos que os padres escolhiam aleatoriamente ou que demonstrassem gratidão ao padrinho que os acolheu. Daí, muitos semitas acrescentaram aos seus nomes cristianizados um segundo nome como Dias, Pereira, Brandão, Rocha, Pinto, Rodrigues, etc. (conforme citados no Livro dos Culpados da Santa Inquisição). Devido ao grande número de semitas que vieram para o Brasil, alguns pesquisadores acreditavam e divulgavam que todas os brasileiros cujos nomes se referissem a animais (Carneiro, Pinto, etc.), plantas (Oliveira, Pinheiro, etc.), objetos (Machado, Cunha, etc.) e religião (de Jesus, Das Virgens, etc.), seguramente teriam origem sefardita (judeus e árabes ibéricos convertidos à fé católica). No entanto, como já dito antes, esses eram nomes portugueses e cristãos dos quais os recém-convertidos se apropriavam. Então, mesmo que seu sobrenome seja um dos citados no referido livro da Inquisição, não quer dizer que você tenha origem semita.


Os noivos, escravos forros, adotaram os sobrenomes do seus ex-senhores.
(livro de matrimônios da freguesia da Sé, SSa, Ba.)
O que aconteceu com os sefarditas foi o mesmo que aconteceu com os africanos, com a diferença de que estes últimos podiam ter apenas um nome, que geralmente era escolhido por seus senhores e sempre faziam alusão aos santos ou aos seus padrinhos. Devido a isso, quando se lê as certidões de casamento de africanos escravos no Brasil antes da Lei Áurea, vemos sempre nubentes que possuíam um só nome. No entanto, quando um escravo recebia alforria, alguns deles adotavam o nome do seu senhor e o transferiam para seus filhos, que assim, perpetuaram vários sobrenomes que, originalmente, pertenciam às famílias portuguesas. Após a libertação dos escravos,  a prática de adoção de sobrenomes portugueses se tornou corriqueira. Todavia, os afrodescendentes brasileiros não devem descartar a ancestralidade do seu sobrenome português, uma vez que vários senhores de escravos geraram filhos bastardos com africanas e crioulas (mulheres de origem africana nascidas no Brasil), os quais, posteriormente assumiram os nomes de seus pais, e homens brancos portugueses casaram-se legitimamente com mulheres africanas suscitando descendência conforme se pode verificar nos livros de registros civis e da igreja. 



Por conta disso, se faz necessária uma busca histórica paciente a fim de conseguirmos traçar as origens sefarditas e identificarmos as nações de origem dos afrodescendentes no Brasil (num post futuro falaremos sobre genealogia indígena e africana). 

Por agora, espero ter ajudado com o conhecimento a respeito dos nomes e sobrenomes portugueses.

Para mais informações em relação à origem dos sobrenomes, a respeito dos sobrenomes de origem não portuguesa, entre outras curiosidades, recomendo os seguintes links:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Conven%C3%A7%C3%A3o_romana_de_nomes
https://pt.wikipedia.org/wiki/Nomes_e_sobrenomes_portugueses#Hipocorismo
http://www.momentosdehistoria.com/MH_03_05_01_interest.htm
http://www.familiaboaretto.com.br/index.php/sobrenome/12-a-origem-dos-sobrenomes-o-concilio-de-trento (italianos)
http://www.maiscuriosidade.com.br/25-curiosidades-super-interessantes-sobre-os-sobrenomes/

Próximo post: como ler a grafia dos documentos antigos.

Gostaram? então divulguem 😉

domingo, maio 01, 2016

Árvore Genealógica - Em busca das origens


Meus avós maternos, tias-avós, bisavó, mãe e tios
















Caros amigos, como prometido, começo aqui uma pequena série de posts para aqueles que se interessam pela busca de suas origens, em conhecer sua ancestralidade. Espero poder de alguma forma contribuir com suas pesquisas.

Algumas palavras iniciais
Desde criança eu sempre tive grande curiosidade em saber sobre a história de minha família, especialmente quando se falava de ancestrais (ascendentes já falecidos, normalmente de várias gerações anteriores).

Ficava calado, olhos abertos, ouvindo minha tia-avó Zita (a que está sentada à direita da foto, segurando meu tio) contar as histórias de seus pais, avós, tios-avós, primos-bisavós, etc.

Os casos e anedotas por ela compartilhados sempre impulsionaram minha imaginação. Ficava pensando em um de seus avós cruzando o oceano em busca das terras brasileiras, de um de seus bisavós que era delegado de polícia no Brasil colonial, de seus ancestrais diretos e indiretos que participaram de guerras e insurgências, sempre curioso com os desfechos das histórias.

Vez ou outra eu perguntava o nome da família a qual pertencia o ancestral em questão. Aí, ela vinha com uma lista de nomes que sempre repetia, talvez para incutir em minha memória e não me deixar esquecer nossas origens: Dias D´ávila, Dias Brandão, Pinto Pacca, Rodrigues Pinto, Cachoeira, Mattos Guerra, Goes e Vasconcellos, Abreu e Lima, Carvalho e Albuquerque, Pereira Marinho, Braga Sampaio, Tinta, e por aí ia a longa lista.

Ficava impressionando como sua memória já anciã guardava tanta informação. Especialmente porque ninguém na família, a não ser ela, se interessava por esses pormenores, os quais se mostraram importantíssimos nas minhas buscas quando a leitura de documentos começou a ser feita. 
1A: Meu bisavô é o n. 4 - Mário Dias Brandão.
Do livro "Impressões do Brasil no Século Vinte"
P. 885, Lloyd's Great Britain Publishing Co., 1913
Apesar de todo seu conhecimento da nossa história, alguns fatos como, por exemplo, o lugar de onde seu avô materno era originário, haviam caído no esquecimento após duas gerações, restando apenas nas lembranças os feitos e os seus ensinamentos.

 Aliás, conversando com as pessoas descobri que esse é geralmente o limite de conhecimento sobre os antepassados: duas gerações. E, incrivelmente, há aqueles que não conhecem sequer os nomes de seus avós , pois os pais não falam sobre seus pais a seus próprios filhos (o que para mim é um escândalo!). Talvez essa falta de interesse familiar de nossa sociedade seja mesmo a razão pela qual ao comentar com algumas pessoas sobre as minhas pesquisas genealógicas elas revezem os questionamentos: "você não tem mais o que fazer?" ou "está querendo tirar passaporte português?".

Elas não conseguem entender como alguém pode se interessar pela história de sua família e seus ancestrais, ou como alguém pode passar horas lendo livros velhos e empoeirados, ou buscando na Internet informações sobre pessoas que já se foram há tanto tempo. Tem gente que passa duas horas assistindo a jogos, outros passam a tarde inteira assistindo novelas mexicanas, outros passam seu tempo dormindo, outros estudando a origem do universo. Eu, ultimamente, tenho preferido passar meu tempo livre com pesquisas familiares as quais, além de me levarem ao conhecimento das minhas origens, também me abriram caminho para outras áreas do saber como a onomástica, a paleografia, a antropologia e, obviamente, a história. 

Coincidências à parte...
avós maternos
Depois que minha tia Zita se foi, as conversas sobre meus ancestrais quase não existiram. No entanto, lá nas minhas recordações, a chama da curiosidade ardia a custo, tremulante, querendo uma palhinha para voltar a luzir mais fortemente.

Isso aconteceu, certo dia, quando  estava assistindo a uma série estadunidense da qual eu gosto muito chamada "Brothers and Sisters" (Irmãos e Irmãs) que se desenrola em torno da família Walker e de suas tribulações e alegrias, conflitos e amores. Em um dos episódios da série, surge uma personagem secundária que é totalmente obcecada por genealogia e que descobre coisas interessantíssimas sobre os ancestrais dos Walkers simplesmente buscando informações sobre eles na Internet, a qual, segundo a personagem "faz a sua cabeça rodar pelas coisas que permite que a gente encontre nas buscas".

Essa frase ficou martelando na minha cabeça, a força da curiosidade gerada por esse comentário aumentando cada vez que a personagem dizia algo novo sobre os ancestrais das personagens principais.

Terminado o episódio, sentei na frente do computador e, lentamente, como quem se sentia um bobo por seguir a recomendação de uma personagem de série de TV, pus o nome de meu bisavô materno no Google, sacudi a cabeça me reprovando, cliquei no "enter".

Menos de um segundo depois aparece diante de mim o resultado. Vários Mários Dias, Mários Brandão e apenas um que combinava os dois sobrenomes e que fazia parte de um livro sobre como era o Brasil no dealbar do século 20 e quem eram as figuras ilustres de cada Estado brasileiro na época. Cliquei no link, abriu-se a foto que postei acima (1A).
avós paternos e tios

Quando bati o olho no rosto n. 4 logo reconheci aquela cara bonita por trás do bigodão. Meu bisavô, o mesmo da foto na parede do nosso gabinete, estava ali, na internet, diante dos meus olhos. Liguei para minha avó, perguntei se ela sabia de algum livro no qual o nome e a foto de seu pai constavam, ela disse que não -  ninguém sabia, minha tia nunca mencionara o livro. Começava aí a minha busca pelos tesouros perdidos. Desliguei o telefone, escrevi o nome do meu trisavô. Lá estava ele! Um dos heróis que arriscaram a própria vida durante o incêndio na Faculdade de Medicina da Bahia, em 2 de março de 1905!

Olhei minha cara refletida no espelho à minha frente, a boca estava aberta em sinal de pasmo. Senti correr em meu corpo aquele raio elétrico de excitação e assombro. Como ninguém nunca tinha pensado em fazer isso?! Continuei a pôr os nomes de que me lembrava, alguns resultados positivos, outros sem nenhum resultado.

Entre esses resultados positivos, talvez o mais espantoso tenha sido um sobre a família do avô materno de meu pai, da qual não sabíamos quase nada. Na verdade, a não ser pela foto do meu bisavô, nada mais sabíamos de sua história ou de seus ancestrais, apenas que ele era português e morrera quando minha avó ainda era criança. Pus o nome dele no Google e descobri que era comerciante em Salvador. Pus o nome de seu pai na pesquisa e encontrei um site com um texto longuíssimo falando sobre o homem e sobre sua importância na cultura da cidade de Ílhavo, em Aveiro, Portugal. João da Rocha Carolla, músico ilhavense de outrora, dizia o site. E eu sem ter ideia de onde era o Ílhavo!

Foi assim, por coincidência, com a ajuda da Internet, por causa de uma série de TV, que iniciei a busca pela história esquecida da minha família.
João da Rocha Carolla - trisavô paterno
Como iniciar suas pesquisas genealógicas
Toda pesquisa genealógica começa com o conhecimento dos nomes de seus ascendentes. Uma boa maneira de você descobrir quem eram eles é olhando sua certidão de nascimento, pois nela constam os nomes de seus pais e seus avós. Depois de saber isso, procure as certidões de nascimento de seus pais, lá constarão os nomes dos pais e dos avós deles - assim você saberá os nomes de seus pais, avós e bisavós. Se ainda conseguir a certidão de seus avós, aí você conseguirá saber os nomes de seus trisavós, e assim por diante.

Uma ideia boa e simples para começar a montar sua árvore (pois existem formas técnicas, algumas delas meio rebuscadas), é você usar o programa Excel => Ferramenta SmartArt => Hierarquia e ir escrevendo as informações (nome e sobrenomes, data de nascimento, casamento, óbito) a partir de você (você pode fazer isso numa cartolina também). Eu mesmo comecei minha árvore pondo os nomes numa folha de ofício A4, pois nunca pensara que ela chegaria tão longe. Na verdade, eu achava que iria encontrar no máximo quatro ou cinco gerações. Mas a pesquisa foi se aprofundando, os documentos disponíveis, na grande maioria, estavam bem conservados, aí eu fui me deixando pesquisar.

O Excel é bom, no entanto, pois com os recursos de adicionar novas cédulas ao lado e abaixo no programa, você pode fazer sua árvore ad infinitum desde que vá aumentando o tamanho da página, e se precisar corrigir alguma data ou nome, o trabalho ficará muito mais fácil e organizado. A minha árvore, por exemplo, já chegou à 13a geração antes de mim (em torno de 1584), e nesses dois anos de pesquisa eu precisei fazer algumas correções de nomes, datas e lugares de origem do ancestral, conforme as informações dos documentos - por essa razão, não devemos apenas procurar os ancestrais diretos, devemos também procurar os irmãos deles para termos certeza da informação prestada no material que temos.

Mas de onde raios vem o nome "árvore genealógica"? Ele é derivado do formato que ela tem, lembrando uma árvore e suas ramificações, pois ela vai crescendo para cima (começando de um ancestral comum a todos os outros descendentes dele/a) ou para baixo (se você começar de si mesmo). Neste último formato você vai descobrindo que à medida em que se encontram novos ancestrais, a árvore vai ficando cada vez mais robusta na base, pois cada um de nós tem 2 pais, 4 avós, 8 bisavós, 16 trisavós 32 tetra-avós, e assim por diante. 

Onde encontrar os registros
Quando comecei a pesquisar, apenas tinha conhecimento do Google Search. Não sabia aonde ir ou a quem pedir ajuda. Quando se acabaram as informações da Internet sobre os ancestrais que eu conhecia, fiquei num mato sem cachorro. Daí, joguei a pergunta no buscador online: "onde pesquisar genealogia". Vários sites foram encontrados e eu comecei a buscar informações neles. Demorou algum tempo até que descobri aonde ir em Salvador.

Via de regra (não só aqui, mas pelo mundo), os registros a partir de 1900 poderão ser conseguidos no cartório - mas lá será necessário você ter datas de nascimento, casamento, óbito, não apenas o nome. Outra forma de conseguir os registros de nascimento, casamento e óbito no Brasil e Portugal é nos livros de assentos de batismo, matrimônio e óbito da igreja católica.

Os registros da igreja supracitados estão disponíveis em Salvador no laboratório de restauro da Universidade Católica, na Federação (http://www.ucsal.br/extensao/projetos-e-acoes-comunitarias/laboratorio-de-conservacao-e-restauracao-reitor-eugenio-veiga-lev) e na Cúria Metropolitana, no Garcia (http://arquidiocesesalvador.org.br/site/). Embora os arquivos estejam disponíveis livremente à pesquisa pública, é necessário fazer o agendamento prévio.

Em Portugal, os registros são disponibilizados nos Arquivos Distritais, na Torre do Tombo, em Lisboa, e na Universidade de Coimbra, em Coimbra, tanto presencialmente como através da Internet. Para mais informações, vá aqui:  http://www.aatt.org/site/index.php?P=3

Outra maneira de conseguir informação sobre os assentos de batismo, casamento e óbito da igreja católica (lembrem-se que no Brasil e Portugal esses registros eram feitos pela igreja, portanto, os registros antes de 1900 com certeza estarão nos arquivos eclesiásticos), é através do site dos mórmons: Family Search. Por questões religiosas, eles mantém o maior banco de dados genealógico digitalizado a partir dos livros das igrejas e registros civis pelo mundo.

Isso quer dizer que provavelmente você não precisará sair de sua casa para acessar os registros de seus ancestrais. O site é este aqui: https://familysearch.org/search/collection/location/1927159?region=Brasil. Para começar a pesquisar no site é bom você seguir a visita guiada. 
1B - Certidão de batismo de meu bisavô (Brasil). Ao canto esquerdo lê-se o (prenome) Mário, e a cor (branco). No texto: a data de batismo, data de nascimento, nomes dos pais, e padrinhos; assinatura do padre.
Uma dica para começar a pesquisa é que você pode iniciá-la de duas formas: com as certidões de casamento ou batismo. Nas primeiras, geralmente, você encontrará os nomes dos noivos e de seus pais. Para mim, é o modo mais fácil, pois nos assentos de casamento escreviam-se os nomes de ambos os noivos na lateral do documento, enquanto nos assentos de batismo apenas se escreviam os prenomes das crianças.

Desse modo, a certeza de que se encontrou o ancestral correto é maior. Depois de encontrar o certificado de matrimônio, passe ao de batismo. Como os métodos contraceptivos não eram vistos com bons olhos, o primeiro filho sempre vinha nove meses depois do casório, assim, se seu ancestral tiver se casado em janeiro de 1900, tudo correndo bem, seu primeiro filho, com quase absoluta certeza, terá nascido em outubro.

Aí você passa a procurar nos assentos de batismo a partir de agosto (o bebê pode ter vindo prematuro) para encontrar seus ancestrais e os irmãos deles. Note que a igreja escrevia apenas o prenome da criança, portanto, há que se ler o certificado de batismo para encontrar os nomes dos pais e (geralmente, em Portugal, raríssimamente no Brasil) os nomes dos avós como se pode observar nas imagens 1B e 1C.

As certidões de batismo e casamento portuguesas às vezes vêm com riquezas de detalhes a ponto de informar inclusive a profissão do pai e dos avós da criança, No Brasil, as informações são extremamente básicas - uma das certidões que encontrei, por exemplo, tem apenas a data do casamento dos nubentes, os nomes das mães (ambos constam como filhos legítimos, mas o padre não se deu ao trabalho de incluir os nomes dos pais, que já estavam mortos) e a assinatura do padre. Nesse caso, a pesquisa se torna um pouco mais difícil. 
1C - Certidão de batismo da avó do meu bisavô - minha tetra-avó - (Portugal). Ao canto superior esquerdo lê-se a vila de origem (Covellos) e o prenome (Maria). No texto: dia do nascimento, filiação e vila de origem de cada um dos pais, os nomes dos avós paternos e maternos e suas vilas de origem, o nome da igreja, os nomes dos padrinhos e testemunhas e suas vilas, e a assinatura do vigário. 
Por esta razão, temos que lembrar da existência de outros documentos que nos confirmem filiação, origem, etc., tais quais passaportes, testamentos, certidões de compra e venda, documentos das Forças Armadas, Câmaras Municipais, casamento civil (a partir de 1890), documentos de divórcio (idem), etc. Para ter acesso aos passaportes de portugueses antes de 1910, e os cartões de imigração do Brasil, pode-se consultar os Arquivos Distritais, o Family Search, Arquivo Nacional do Rio de Janeiro. Para os outros documentos, procure o Arquivo Público de sua cidade.

No APEBa (em Salvador), eu encontrei vários inventários, testamentos, cartas de dote, recibos de compra e venda de imóveis e produtos, correspondências dos ancestrais que eram delegados de polícia, e os livros da Polícia do Porto, onde se pode ver a entrada e saída de passageiros pelo Porto de Salvador - você também encontra esses livros da Polícia do Porto digitalizados no Family Search). Para mais informações sobre o Arquivo Público da Bahia, APEBa, em Salvador, vá aqui: http://www.fpc.ba.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=66. Você ainda pode procurar na Fundação Gregório de Mattos http://www.culturafgm.salvador.ba.gov.br/ - lá encontrei alguns registros de óbito, casamento civil e documentos da Câmara Municipal -, e nos arquivos da Santa Casa de Misericórdia da Bahia: http://www.santacasaba.org.br/ - se seus ancestrais eram ligados à Santa Casa, e.g. se eram irmãos, provedores ou mesários, ou se foram sepultados no Campo Santo, você encontrará informações valiosas sobre eles como data de nascimento e morte, nome do cônjuge, etc. 

E então, prontos para começar os primeiros esboços de sua árvore genealógica? No próximo post falaremos a respeito dos sobrenomes, e daremos dicas de como ler e entender a grafia nos documentos antigos.

Gostaram? Então divulguem. 




Criança sequestrada em 1988 procura família biológica

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