domingo, dezembro 20, 2009

Flamenco Nordestino - GRUPO FLAMENCANTES


Primeiro, as luzes se apagam e vem o silêncio; depois, o som da flauta transversal inunda o teatro com seu lamento doce e triste que se une à voz forte de Ivete Andrade e sua música Severina. Então, iluminados pelo sol poente e causticante do cenário árido a que as composições e o som queixoso de melodias nordestinas nos remetem, os dançarinos entram no palco.

Sobre eles os holofotes lançam feixes de luzes alaranjadas e vermelhas para introduzir-nos na dança sanguínea que em poucos minutos arrebatará nossa atenção inteira e nos extasiará por mais de uma hora.

No requebro de quadris femininos divinamente sensuais, na batida forte dos pés sobre o tablado, nas palmas cadenciadas que alternam em seu ritmo as batidas fortes, fracas, feitas de segundos de suspensão como estava o coração dos espectadores, surgem as Carmens com seus longos vestidos rodados, suas rosas nos cabelos amarrados em coque e seu jeito altivo, imperioso, soberano, de mulheres andaluzas.

Histórias se contam, abandonos, amores bandidos, meninas se tornam mulheres, o luar cobre o sertão. Vemos mãos se transformando em movimentos ora leves ora frenéticos e nos fazendo lembrar de animais de simbolismos ancestrais: o cisne dançando para encantar o deus, a serpente astuta que seduz o viajante incauto, a mulher de olhar agatiado e a ararinha azul se emplumando sobre os troncos secos do árido nordeste. Somos lançados sem dó ou piedade no palco para onde nossos olhos foram arrastados e onde por alguns pares de minutos nos deixamos escravizar pela beleza re-lida, nordestinizada, de um flamenco sincrético.

Os vestidos rodam, sobem, descem no compasso da música. As Carmens Severinas obedecem ao comando de Daniel Moura - um tom de leve masculinidade sobre o império das fêmeas -, se submetem à sua ordem, para depois conquistá-lo sutilmente, violentamente, inescapavelmente, com sua dança morna que vai tomando ares de calores desérticos ao passo em que os sons do sapateado, misturados aos instrumentos de corda e à percussão, ressoam na sala.

Entre as deusas desse Parnasso hispânico-nordestino, Tatiana Simas surge majestosa. Seu vestido amarelo se destaca entre o vermelho, laranja, ocre de suas companheiras. Naquele deserto de fados brasileiros, ela é o girassol que se abre não para absorver do astro rei, mas para irradiar uma beleza, uma tepidez, uma luz que nos hipnotiza durante todo o tempo de sua permanência em cena – ela se basta. Acompanhamos, arrebatados, cada ato, cada gesticular de braços, mãos e dedos, cada sinuosidade da dança lasciva, forte, inocente e de queixas solitárias, cada expressão dura naquele rosto suave de traços firmes, cada palavra muda que seu olhar lança sobre nós – ela e seus colegas são o sol em todo o seu esplendor, e nós, os espectadores, os astros que comovidos e submissos pedimos permissão para orbitar em sua galáxia durante os atos idiossincráticos de sua dança.

Na inovação que se dá em cada ato, os dançarinos, senhores da dança toda sua peculiar, nem nos deixam sentir falta das tradicionais castanholas, pelo contrário, fazem homem, menino, menina, mulher irem ao delírio, não conterem palmas, urras, assobios. E por fim, flores lançadas ao palco, deixam descansar os pés para receberem os aplausos dos que, em estado de graça, assistiram, na última sexta-feira, ao espetáculo benevolentemente trazido ao público por aqueles filhos de Terpsícore que ali estavam diante de nós.

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domingo, novembro 15, 2009

Intolerância Religiosa em Salvador

De quando em quando a imprensa baiana surge com dramáticos neologismos – aquelas palavras que a gente já conhece, mas que tomam sentido novo de acordo com o que os falantes lhes querem imprimir.

Há algum tempo atrás, eles renovaram a palavra “tragédia” de forma a equiparar o lamentável incidente na Fonte Nova à devastação causada pelo furacão Catrina nos E.E.U.U., ao tsunami no Oceano índico em 2004 e ao acidente com os aviões da TAM (2007) e GOL (2006).

Não digo que não tenha sido doloroso e chocante ver pessoas que foram se divertir e torcer pelo seu time morrerem da forma lastimável como morreram, mas tragédia? Bem, dadas as proporções (dos mais de 60 mil pagantes, 08 foram mortos no acidente e cinco se feriram) eu contaria o caso como um triste, terrível acidente; mas apenas porque ver pessoas, de qualquer idade, com saúde e força, serem privadas da vida é sempre terrível. Mas Tragédia? – Com certeza para os familiares e amigos.

Agora, nesse domingo próximo passado, eles me inventaram outra: INTOLERÂNCIA RELIGIOSA, com direito a passeata e tudo.

Falar de intolerância religiosa numa cidade como Salvador é tão patético quanto falar de seres ultra-humanos habitando as profundezas da Terra.

Numa cidade em que se tem um Cristo na Barra, igrejas evangélicas em cada esquina e TODO MUNDO usando jargões como “tá amarrado” ou “tá repreendido” para espantar “forças e energias negativas”; onde há gente de burka rezando três vezes ao dia, pandeiros e fitas e sons de “Hare Krishna”, reuniões budistas freqüentadas por adeptos e curiosos, centros espíritas de portas abertas aos visitantes que os lotam, e tantos desavisados falando em karma a despeito da fé que professam; onde se tem orixás enormes num dos mais belos cartões postais da cidade, o Dique do Tororó, bem como na sede dos Correios e Telégrafos da Pituba, e, como reza a lenda, uma igreja católica para cada dia do ano.

Numa cidade cujo povo, de diferentes religiões - e até mesmo aqueles que não têm crença em nada ou ninguém - sai às ruas na 3ª quinta-feira de janeiro acompanhando o cortejo católico em que mães e pais-de-santo são assediados para darem banho de água-de-cheiro e benzer os caminhantes que, juntos com o prefeito evangélico tocando pandeiro, homenageiam o Cristo ou Senhor do Bonfim ou Oxalá (originalmente Orixalá = Orixá + Allah), falar de intolerância religiosa - uma vez que ser intolerante significa ”ser incapaz de conviver com diferenças, opiniões ou crenças divergentes daquelas particulares ao indivíduo” - repito, é patético demais!

O que sinto é que há um grupo de radicais fascistas querendo nos impedir de exercermos nossa liberdade de expressão; querendo tolher nosso direito constitucional de não acreditar, não querer e não aceitar para nós individualmente suas crenças. Parece-me que querem transformar o nosso direito de não tomar como verdade o que não acreditamos. Os intolerantes não são aqueles que não participam da ou compartilham a fé de outrem ou que não chamam de seus os deuses alheios; os intolerantes são aqueles que não permitem que os outros não dividamos com eles a sua visão de mundo, que nos querem impedir de professar a nossa descrença em seus rituais, que desejam tapar as nossas bocas todas as vezes que dizemos algo que vá de encontro ou fira a sua vaidade pessoal mais que e o seu credo e opinião sempre únicos, verdadeiros e supremos.

Intolerância religiosa é o que o Papa Urbano II promoveu no séc. XI com a invenção das Cruzadas; é o que, mais recentemente, vimos na Indonésia quando da anexação do Timor Leste, período em que os cristãos foram caçados e mortos, seus corpos arrastados na rua pelos muçulmanos, ou a destruição dos budas centenários do Afeganistão pelo regime talibã. Intolerância religiosa foi o que o mundo presenciou nos países do Regime Comunista; foi o que Mao Tsé Tung fez com os budistas chineses na década de 50.

Mas em Salvador, onde a estátua do Cristo da Barra convive serenamente com os Orixás do Dique do Tororó, e os altares em casa provêem espaço para São Jorge (vejam só, um Cruzado!), Yemanjá (um orixá caucasiano e vestido de azul e branco como a Virgem Maria!) e até a efígie do Buda de costas para a rua, ao lado de um copo com água e carvão, duendes e bruxinhas, não se pode falar de intolerância, a não ser por uma questão de afirmação ressentida de poder, por querer-se usar de desculpas absurdas a fim de tentar introduzir à força a repressão ao nosso direito de escolha e à nossa liberdade de pensamento e expressão.

São estes fascistas que querem destruir a nossa individualidade e o nosso direito de não professar sua fé. Não somos nós que destruímos igrejas, que bombardeamos templos ou que tacamos fogo nos terreiros a fim de acabarmos com quaisquer crenças; são eles, os mesmos que pretensamente lutam por seus direitos, que querem destruir o direito alheio quando sutilmente dão nova roupagem ao vernáculo para encobrir a sua sede de vingança, o seu terrorismo e o seu ódio à liberdade. Intolerância Religiosa em Salvador é um neologismo muito sem graça engendrado nas entranhas dos fascistas, propagado pela mídia repressora e acreditado pelas mulas.

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domingo, julho 19, 2009

Um menino à janela (Para M.T.)

Eu vi um menino apoiando o queixo sobre o braço, sobre a janela
Olhar perdido, esperançoso contemplando o céu azul.
O que ele queria? voar talvez. Ícaro sem asas ele era,
O menino que eu vi olhando o mundo da janela semi-cerrada.

Uma mão sua repousava sobre o queixo, a outra descansava o peso do mundo
Sobre os cabelos penteados lateralmente.
O que ele queria? sonhar talvez, viver num mundo diferente
Daquele a que seus olhos de leve melancolia presenciaram até hoje.

Há uma idade em que o vento leve sobre as faces é furacão
E que a ventania é uma pluma tocando leve os corações puros.
Eu vi o rosto daquele menino e fui tocado pela beleza da composição que ele, distraido, criou.
O que ele queria? poetizar talvez, sem saber, a alma de quem o via.

Que olhar era aquele, meu Deus, que inspiração o levara a ele,
Que indecisão, que dor escondida na alma daquele menino que eu vi um dia?
Não sei, mas o rosto levemente inclinado para cima,
Sem os traços dos anos, verde em folha, suave como o passarinho que quer voar
Quando as asas ainda não sabem fazê-lo, me encheu de uma nostalgia, uma saudade tão grandes Do tempo em que era eu um menino que contemplava o céu da janela
Pensando, sonhando, sorrindo como esse menino, à janela, que eu vi um dia.



quarta-feira, julho 08, 2009

Há um silêncio aqui dentro pior do que o que faz lá fora,
Pois esse não tem cicio de insetos nem som de vento
Removendo as folhas do chão, brincando com o pano das cortinas;
Este silêncio é mudo por completo e tem o vazio solitário das esquinas–
Este silêncio é silêncio.

Um velho mendigo anda cambaleando na calçada:
Pára, senta, escuta, tenta levantar. Há quem ria dele, há quem sinta pena;
Não queria risos nem dó, mas flores para o enterro
De si mesmo, esse sujismundo a quem o amor amarrotou.

Às vezes eu me pego pensando no valor das coisas -
Entre elas a vida, a amizade, a paixão, enfim, o que nos faz humanos.
É quando entra um pensamento bruto na alma de que nada vale a pena.
Seja a alma grande ou pequena, tudo é vão.

Mas basta um olhar, uma carícia, um beijo leve ou um aperto de mão
Para que esse pensamento terrível se dissipe.
A gente vive querendo justificar a existência e entender as ações dos outros
Quando na verdade deveria olhar para o céu e se perder na imensidão azul
E no silêncio, o silêncio.

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segunda-feira, julho 06, 2009

Que Michael descanse em paz (POR FAVOR!)

O escritor francês René Char disse certa vez que "quem vem ao mundo para nada alterar, não é digno de consideração nem de paciência". Dessa forma, certamente há que se render tributos a Michael Jackson, o artista que modificou para sempre a cara da música pop no mundo, que foi um dos responsáveis pela quebra de mais um dos muros da estúpida segregação racial dos E.E.U.U, reafirmando com sua voz melódica e seus passos de leveza sublime a música e a dança dos negros na América branca.

Sua morte, portanto, deixa uma ferida profunda no seio da música mundial e uma clareira aberta no coração dos milhões de fãs seus que foram sendo arrebanhados por três, quatro gerações seguidas através de baladas românticas, de seus gritos de protesto por um “mundo” que precisa de ser “curado pelo amor” .

Não é de se estranhar, assim, que vejamos planeta afora homenagens, tributos, comoção geral, uma corrida para se comprar seus álbuns – o que talvez faça de Michael, a exemplo de Elvis Presley, mais rico em morte que em vida-, e o desamparo estampado na face de velhos, jovens e crianças que se abraçavam numa tentativa de consolo coletivo diante do hospital em que o músico expirava. Quantos homens conseguiram destroçar as diferenças entre gerações, culturas e raças como ele o fez em vida e muito mais em morte? Poucos, com certeza.

No dia 25 de Junho de 2009, Michael Jackson deixava os palcos em silêncio. A partir de então, raramente se verá toda aquela efusão genuína de melodia, dança, vida, luz, cores, amor à arte e o drama profundo de uma vida convertida em espetáculo: um drama cheio de luz e cores que lhe tolheu a infância, e o transformou no rei do show biz, gerando naquela mente sensível ao extremo o que os seus detratores mais tarde chamariam de excentricidade paranóica.

Mas como julgá-los? Quantos de nós não fomos tomados por espanto ao ver durante os anos as incríveis transformações pelas quais o músico passava? Primeiro, a modificação dos cabelos Black-Power por cachos domados; depois, o afinamento das feições africanas para uma aparência caucasiana por sucessivas plásticas no nariz e lábios; e, por fim, o branqueamento de sua pele. Michael Jackson parecia querer destruir todo e qualquer traço de sua origem afro-americana e se transformar em alguém acima do bem e do mal, talvez o übermensch de Nietzsche, aniquilando os traços de sua raça, modulando sua voz sempre infantil e obtendo feições cada vez mais definidas nos padrões míticos que ele mesmo elaborava de acordo com os ditames de sua mente adoecida.

O menino negro de cabelos encarapinhados que encantou o mundo com canções como “Ben” e “One day in your life”, pouco a pouco foi se convertendo num recluso, exótico ser humano de aparência híbrida e chocante. Essa sua reclusão, aliada a um hipotético complexo de Peter Pan, catapultou as suspeitas sobre seus gostos sexuais e o levou às manchetes de jornais em todo mundo devido a acusações de (suposta?) pederastia. Começou aí a trilhar a Via Crucis sem esperança de ressurreição.

Seus algozes não eram os soldados romanos e seu flagrum, mas a pena e as câmeras da imprensa que caíam sobre seu corpo como os urubus sobre a carniça e continuaram sobre ele até bem recentemente. É interessante notar na evocação dessas lembranças, no entanto, que essa mesma imprensa implacável diante das faltas de Jackson é a mesma que há duas semanas incessantemente não pára de falar de sua morte. Mas esse é mesmo o trabalho dela desde William Hurst: destruir e criar mitos.

Não é à-toa que vimos a hipocrisia sincera de William Bonner ao dizer no final do Jornal Nacional do dia 25/06 – para consertar um erro de Fátima Bernardes – que estávamos “todos chocados com a notícia de última hora”. Chocados devíamos mesmo estar, afinal, é sinal humano chocar-se com a morte de um contemporâneo por razões psicológicas que não citaremos aqui. Mas chocados até que ponto? Ao dos supostos suicídios que se seguiram à morte do cantor, ou ao show incessante das imagens de Michael a fim de transformarem aquele a quem essa própria mídia chamou de drogado, pederasta, molestador, em um ídolo ubíquo quase deus? Sinceramente, estou esperando o momento em que a imprensa começará a relatar os milagres de Michael Jackson e pedir ao povo que espere a sua ressurreição. Será que o Vaticano já recebeu um pedido de beatificação em favor do cantor?

Estamos chocados sim! Pois a morte de alguém sempre nos choca. Mas chocados ao ponto de pararmos todas as notícias em prol de uma? De mobilizarmos o mundo em prol de um sepultamento que já deveria ter ocorrido? De transformarmos nossos Orkuts e MSNs em epitáfios? Não estou advogando contra Michael, pois, como a própria mídia não nos deixa esquecer há tantos dias sucessivos, ele teve relevância na história da música contemporânea. Mas não já estaria na hora de deixarmos os mortos enterrarem seus mortos e prosseguirmos com a vida que no resta?

Essa explosão de notícias sobre o passamento do cantor, essa exploração da morte de alguém querido para tantos, por razões reais ou de afetação, já ultrapassou o ridículo! O que nos importa saber quantas passagens secretas havia no rancho Neverland. Por que nos interessaria descobrir que havia uma televisão escondida sobre a piscina do cantor? O que nos importa se o homem dormia de touca?

Se queremos trazer à tona os mortos, tragamos os que realmente nos afetaram diretamente! Eis diante de vós, leitores, o exemplo do ex-senador Darcy Ribeiro, que poucos conheceram em vida e muitos menos em morte. Esse que lutou anos sem trégua pela democratização da educação no Brasil, pela inclusão das chamadas minorias e seu acesso ao sistema educacional brasileiro, que criou Leis para nos garantir a educação pública e resguardar nossas crianças e jovens. Ele sim deveria ter programas em sua devoção por duas, três semanas seguidas; deveria ter seu rosto estampado em todas as capas de revista, deveria ter discutidas suas leis para que o povo soubesse o que realmente importa! Ele que apenas foi citado em notas de rodapé quando da sua morte.

Mas a ele, uma das vozes dos que clamam no deserto, como o são todos aqueles que na verdade merecem glórias, a nossa imprensa a serviço da idiotização das massas relegou ao esquecimento e às discussões nos cursos de Humanidades. Assim como fará com Cristovam Buarque, Rubem Fonseca, Rubem Alves, Prof. Cleide Sobrinho, Frei Henry de Rosiers e um milhão de outros que dedicam sua existência para transformar o mundo com o que realmente importa.
Vivas a Michael Jackson; mas muito mais vivas a quem viveu ou vive em prol da humanidade; muito mais vivas a quem morreu para transformar verdadeiramente o mundo dos outros!


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sábado, julho 04, 2009

Palavras Mudas, Palavras Cruzadas – Poemas para Duas Mãos

Trago aqui singelas idéias, palavras mudas... que aos poucos vão ganhando voz...
E cantando assim elas parecem ora estranhas, ora artimanhas,
Obra do destino, ou algum sortilégio de quem busca ajuda
Em nem sempre tão mundana mente, vítima de torpe algoz.

Ei-las palavras mudas, caladas no íntimo, ganhando vida em uma, duas mãos diferentes.
Elas não se cruzam, não se intercalam, jorram como fontes, da mente, de algum lugar.
Cortam as folhas eletrônicas do computador em rápidos segundos
Para encontrar seus pares em outras folhas brancas envoltas de azul.

Palavras muitas que tentam de duas mãos sair e ganhar o mundo,
E encontrar no fundo, dos seres míticos ou críticos ou rítmicos, um sei-lá-o-quê-?
Senso, sentido, sincronismo, similaridade, sinceridade, sonoridade, solicitude...
Virtudes que se espremem de mentes sãs, de mãos abertas para receber o desconhecido.

Nessa rede em que vivemos, pensamos em (nos) prender - ou quem sabe libertar-(nos)!?
Na velocidade e na fugacidade, na efemeridade e na tenacidade
Poemas são feitos à distância segura – mas de onde?
Do coração ou dos ecos de leituras passadas ou de atos mecânicos das mãos
Que não se cruzam?
À distância segura sempre – mas para quê?
Para serem impolutas ou intrínsecas ou quintessentes,
Ou para serem seres ganhando vida em mãos tão diferentes, de histórias tão diferentes que um dia se cruzam?

Vão seguindo-se todas as tentativas de uma conexão...
Perfeita na essência, imperfeita na presença;
Audaz na proposta e eloqüente em supostas respostas.
Vejo pontes sendo feitas, vindas de mim e indo até ao onde-quer-que-seja, onde-quer-que-você-esteja.
Através dessas palavras que criam caminhos e veredas e labirintos dos quem-sou-eu e para-quê-?
Elas se perdem no espaço, nos cabos de fibras óticas, os negros buracos cheios de eletricidade
E de emblemáticas poesias que encontram indefinidas as mãos que não se cruzam.

Por isso, às vezes, cantar um solo é tão fácil que fujo da essência da proposta,
Não sei ainda falar sem som, gritar sem palavras, nem pensar sua canção.
Daí essas palavras mudas e caladas no peito se metem a correr velozes a encontrar sentidos
Diversos nos teclados de computadores distantes um do outro,
Cujo intuito é gerar o que não se pensou jamais, criar o que era impossível
E sonhar com poemas entrecruzados que cortam calados as telas brancas dos computadores.

Dos quais, de um lado, grita um poeta: Ah, quimera de quimeras tão louca na concepção, audaz na criação, cheia de cabeças e braços e mãos!
Quanto receio me inspiraste, quanto alienar-se de mim, quanto buscar a palavra exata que rendesse um poema uniforme vindo de mãos que não se cruzam!
Do outro, responde o bardo: Oh doce mão que iniciou tal ensejo... desculpe os erros desse solfejo...
Queria apenas ouvir e sentir teu pulsar neste primogênito dueto refrão!

Não temas, poeta, pois veja:
Este poema que corre na velocidade de dois pensantes,
Cheio de vida e som e luz que lateja,
Quiçá como a inocência de tantos infantes, talvez com asas de um anjo serafim
Foi feito por minha, por tua mão que se cruzam enfim.

POR: Deivis Elton e Márcio Walter Machado

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domingo, maio 24, 2009

Amores voláteis

Entendi que os amores são como os pássaros -
Nasceram para voar livres nos espaços serenos.
Eles são felizes e eternos apenas se são livres.
Porque, quando postos entre as barras da gaiola,
Perdem seu canto, murcham e morrem como as flores
Cortadas dos hastis.

Muita vez eu fui menino malvado que ao ver o canto do pássaro no mato,
Quis tê-lo para si somente, correu a enjaulá-lo e a pô-lo na parede de casa
Até que seu canto cessasse, as asas se amofinassem
E a alegria emplumada perdesse a graça.

Aprendi que libertando os amores, como se libertam os pássaros engaiolados,
O jardim se enche de um canto novo todo dia, de cores fortes e lindas
Todas as manhãs, e os pássaros, outrora amofinados no canto da gaiola,
Voltam felizes e radiantes e do peitoril de nossa janela aberta
Trinam melodias cada vez mais sonoras para nos mostrarem que os amores,
Assim como os pássaros, só são felizes se estiverem livres para voar.



domingo, maio 10, 2009

Perdido

De tanto amar-te, meu coração virou um rio
E entre afluentes, corredeiras e precipícios
Ele perdeu-se no caminho - eu me perdi!
Pedi a Deus que me fizesse anjo, ave voando -
Que me desse um ninho!
Mas ai!, malgrado meu, Deus ainda não me ouviu.

Há dias em que as estrelas não brilham
Nem a lua nasce no horizonte escuro;
Em que eu não tenho norte, nem sul, nem rumo
E minha estrada é calçada de inúmeras perguntas sem respostas.

Queria me jogar no mar e esperar suas águas profundas
Me envolverem naquele silêncio de mar,
E quando estivesse descendo a me afogar, tu viesses do nada
E me levasses de volta à tona pela mão.
Queria descer no vazio silencioso do mar
Só para ver se tu virias correndo salvar minha ilusão.

Mas temo que ficaria só na imensidão de oceano que é a vida.
Porque os amores todos nascem mesmo é na solidão,
E lá eles se criam e se desfazem e se refazem
Nessas invenções que geramos dentro de nós na busca de sermos completos,
Nessa desvontade de abrirmos mão do que um dia quisemos ter
- É justamente quando o coração se perde e nos sentimos como rios
Que se afogam no meio do mar.

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domingo, maio 03, 2009

A ver navios

Meu amor se perdeu além do cais
Foi embora entre navios e balsas largas.
Fiquei a dar adeus c'os olhos cheios de lágrimas amargas
E nem sei dizer se ele voltará.

Hoje fiquei contando estrelas ao anoitecer.
Se alguma delas brilhou pra mim, não sei dizer
Mas penso que elas são todas lindas
E que estão no lugar onde eu queria estar
- De lá de cima, poderia ver o mar
E saber em que porto atracou quem partiu sem mim.

A vida a ninguém machuca,
Mas os homens, esses sim, são maus.
Não foi à vida que dei toda a minha ternura,
Não foi ela quem me retornou pedras e paus.
A vida a ninguém machuca.

Deixei pela manhã os passarinhos cantando na janela,
Eram cardeais e canários de pena amarela,
E saí correndo a ver o mar.
Mas do cais não avistei navios, só vi as ondas marolando devagar.

Saí correndo pela manhã procurando preencher o meu vazio.
É tão ruim ficar lembrando de quem partiu!
Queria mesmo era mandar todo mundo pra puta-que-pariu!
Mas eu sou tão besta, meu Deus, que fico aqui à beira-mar
Solitário, triste, perdido, com os olhos fixos a ver navios.





terça-feira, abril 21, 2009

Castelos de areia - Para V.B.M

Eu sei fazer castelos - de cartas, de ventos, de areia e canções,
Faço-os como quem brinca na beira da praia ao amanhecer,
Como quem experimenta a vida e vive, acanhado, as emoções
Que vêm de longe, de perto, de dentro da gente -
Emoções do brilho das estrelas, da maciez das rosas e do cheiro do alfinete quando floresce.

Uma noite dessas, pus meus castelos sobre um barco sob a lua
E fiquei vendo de longe o que os ventos e a chuva fariam.
Uma noite dessas, vi meus castelos ruindo aos poucos no vento
Enquanto eu observava de longe, do outro lado da rua.
Meu amor é como um castelo de areia em meio à ventania.

Eu falo de sonhos naufragados e de ilusões perdidas,
Mas não lhe conto dos olhos mareados nem do peito intumescido:
A chuvarada da noite encobre tudo – pranto e riso.
Blem bem blem bem blem bem blem bem blem bem bem
É o sino na noite escura, pedindo ao meu bem que volte;
É meu coração triste desejando de seu amor a quentura.

Canto notas em tom menor porque elas sabem falar da dor no peito.
Deixei de lado os colibris e o rouxinol porque são sempre encantadores.
Sei que na vida tudo passa, e que nada, verdadeiramente nada,
Dura para sempre.
Mas enquanto a vida vai se fazendo de alegrias e dores
Com meus olhos molhados da chuva e meu peito ardente,
Eu fico parado do outro lado da rua
Vendo meus castelos e meus amores serem levados pelo vento.

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domingo, abril 05, 2009

Minha vida / My life

Alegrias contidas e lágrimas abafadas no peito -
A solidão tem dessas coisas.
Às vezes a gente fala sozinho para fingir que tem companhia,
Às vezes a gente ri baixinho para trazer à mente um resquício de alegria.

Tem vezes que pareço o atleta na tela de Zamuel Hube:
Correndo sozinho no meio do campo ermo,
De braços abertos como se vencesse o mundo inteiro
Enquanto a cidade, ao fundo, o olha amontoada e à distância.

Queria tirar essa tristeza do meu coração -
Dêem-me uma varinha daquelas de contos de fadas
E uma fada madrinha que transforme minha abóbora em avião.
Um dia eu achei o amor da minha vida, mas o amor da minha vida não me viu;
Foi-se embora, partiu! e os meus dias todos foram maçadas.

De caminhar pela vida de coração partido e de de sorrisos no rosto,
Sentei-me à beira do rio de águas cristalinas que roçavam os seixos
E refletiam o esboço do que eu sou.
De lá, vi o céu azul ficando cinza ficando azul;
De lá, vi meus sonhos correndos de capas verdes, de vestido nu.

Minha vida é feita de vapores e de água corrente,
É uma pena caindo da árvore ao chão lentamente
E sendo soprada pelo vento antes que a terra a acolha.

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Restrained happiness and tears choked back in the chest -
Solitude is like this sometimes.
At times we speak to ourselves pretending we have company,
Sometimes we laugh in hushed tones to bring to mind some faded contentment.

There are days when I feel like the athlete on a canvas by Zamuel Hube:
Running alone in the middle of a deserted field,
With arms wide open as if he had conquered the whole world
While the city, on the back ground, cramped and aloof looks at him.

I wish I could take this sadness away from my heart -
Give me one of those fairy-tales wands
And a fairy godmother to transform my pumpkin into an airplane.
One day I found the love of my life, but the love of my life didn't see me;
It went away, disappeared! and my days were all hardships.

Of walking through life, with a broken heart and a smile on the face,
I sat by the river of pure waters that gently washed the pebbles
And reflected the faint image of what I am.
From there, I saw the blue sky become gray become blue,
From there, I saw my dreams in a green cape, in a naked dress running through.

My life is made of vapor and running water
It's a feather slowly falling from the tree
And being blowed by the wind before the earth cuddles it. 

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domingo, março 08, 2009

últimos versos

Estes são os últimos versos que terás de mim.
Já não tenho vontade de falar de ti,
De procurar teus olhos em outros rostos;
De tua voz não recordo mais o timbre
Ou o tom das músicas que cantavas para mim.

Meu coração esvaziou-se todo daquele amor que o enchia
- Minha alma está vazia como uma concha lançada à praia pela maré,
Não tenho sequer vontade de dizer-te adeus.
Secou-se me mim o choro, desapareceu para sempre a melancolia,
A agonia da paixão cessou e o meu coração se tornou um abismo colossal
Onde todas as tuas lembranças foram perdidas.

Estou sobre um penhasco de pedras finas e é dele que vejo
Tua última palavra calar-se, teu último sorriso desvanecer.
Penso em dizer-te "adeus", mas esta palavra fria que roça os lábios
Morre à flor da boca para que tu não escutes ao menos um sussurro meu.

Adeus amores falsos!
Adeus ilusões perdidas!
Adeus cadafalso! patíbulos terríveis onde estive!
Adeus às amarguras que me invadiram a mente!
Só a ti não digo adeus para que entre tu e eu
Haja apenas o silêncio.

Não foi para sempre o amor que tive por ti,
Como não será para sempre nenhuma amargura ou dor que me tenhas causado.
Bastou-me hoje, ao despertar do dia, para entender que não tens mais lugar em mim.
Esqueci quem eu era em prol de ti, mas essa insânia durou apenas um segundo.
Basta! adeus ao mundo vão e às ilusões infantis que nele gerei.
Só a ti não digo adeus para que não escutes a minha voz
E haja apenas o silêncio, sem ecos, vazio, entre nós.




domingo, fevereiro 22, 2009

Sem você/ Without you

Caía a chuva forte quando acordei de manhã.
O dia cinza, nevoento, era meu coração tremendo
Do susto de não te ver ao lado - ainda tremo ao amanhecer.
Meu Deus! quantas saudades eu trago em mim, quanta vontade
De te abraçar de novo, de recostar ao teu peito.

Quando tiver um tempo, pense em mim, lembre da lua surgindo,
De você me roubando beijos e dos meus olhos apaixonados.
Eles não têm mais o mesmo brilho, meu rosto não tem a mesma feição,
Mas aqui dentro, no coração, eu ainda tremo ao pensar seu nome.

Meubem, que nome suave é esse que pronuncio!
É como uma prece envolta em incenso doce;
Como miríades de serafins cantando louvores
Diante do Eterno - esse nome que pronuncio.

A chuva ainda cai agora, de leve, dançando no vento
E a lembrança de você corre viva em meu pensamento
Me enchendo daquela vontade de nós dois à luz de vela
Naquela noite primeira, som de violão depois do amor.

Ah! meu coração é só suspiro, nem sei mais se vivo
Porque todo meu viver está perdido nesse desejo de você.
A chuva cai lá fora, tão triste ela cai, e eu no peito suspiro um "ai!"
Pedindo, rezando, querendo te ver de novo.

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There was a heavy rain falling when I woke up this morning.
The gray, hazy day, was my heart trembling
At the fright of not having you near me - I still shake in the morning.
My God! how much I miss you! How big is the desire
To hug you again, to lay my head on your chest.

When you have the time, think about me, remember the moon arising,
The moments you stole my kisses and my loving eyes staring at you.
They don't shine the same any longer, my face doesn't have the same mien,
But here, in my heart, I still shake at the memory of your name.

Meubem, what a sweet name I utter!
It's like a prayer wrapped in aromatic incense;
Like a thousand seraphim singing praises
Before the Eternal - This name I utter.

The rain is still falling, sofltly dancing in the wind
And the memories of you vividly run through my thoughts
Filling me up with that longing to be with you at candle lights
Like in that first night, guitar songs after love.

Oh! my heart is a thousand sighs, I don't even know if I'm alive
Because all my existence is lost in the desire of having you.
The rain falls outside, so sadly it falls, while in my heart I cry
Longing, praying, asking to have you again.

quinta-feira, fevereiro 12, 2009

Amar e não ter / Loving and not having

Amar é ter um vulcão incandescido explodindo louco
Sobre o monte, e ter o peito arfante de emoção;
É querer sentir o outro sobre, sob, perto, dentro,
E o coração batendo violento, convulso e o lábio sedento de paixão.

Mas amar e não ter é sentir toda a dor do mundo pesando n'alma.
É andar solitário entre a multidão e chorar de tristeza em convulsão.
É ser pastor pastoreando pedras no deserto e afogar-se em vales secos.

Amar é querer cantar e não ter voz suficiente para rasgar o peito.
É sentir-se um deus capaz de criar mundos e encher tudo de coisas celestias.
É ser anjo velando sonos inocentes e só de bons sentimentos ser cheio.

Mas amar e não ter é perder a voz num mutismo voluntário,
Na desvontade de falar ou de fazer-se ouvir.
É gritar e rasgar a alma e o coração - mas apenas por dentro,
Sem quem ninguém veja ou saiba.
É sentar-se à Ponta do Humaitá e não ver beleza no pôr-do-sol,
É não perder-se todo nas cores desvanescentes do arrebol.

Amar é transformar a escura noite em luzes de festa e em astros rutilantes.
É viver somente em dia, em harmonia, criando sóis e amanheceres de cristais.
É querer dançar quando não há som e despertar o dom mais belo
Que Deus nos concedeu jamais.

Mas amar e não ter é rezar amuado como quem perdeu a fé e a esperança.
É ficar solitário e não se emocionar com a inocência terna duma criança.
É andar arrastando correntes como a alma amaldiçoada penando sobre a terra;
É ter uma guerra sem fim destruindo todas e quaisquer ilusões.

Amar é sentir-se belo e ter toda a eternidade na palma da mão.
É estar inundado de universo, da voz do Eterno e de cânticos espirituais.
É contemplar com olhos de compaixão a feiúra da existência
E tirar lições de paz de cenas de violência.
É viver em êxtases, arrebatamentos contínuos,
Com o pensamento sempre voltando e indo até a quem amamos.

Mas amar e não ter é viver em desespero
Com cada pensamento pelo ser amado voltando vazio, tremendo no peito.
É contemplar o Paraíso sem poder tocá-lo como na antiga parábola.
Amar sem ter é enlouquecer todos os dias
E a cada hora ter no rosto um semblante soturno, sem vestígios de risos.

Amar é transformar palavras simples em poesia.
É correr em campos de rosas carmins e perder-se em alegrias
Que não se podem conter.
Amar é sentir o que sinto por você a cada segundo que passa.
Mas amar e não ter-lhe o riso ou os olhos lindos, é murchar na flor dos dias,
É ver desfigurar-se na face da morte toda beleza e toda a graça
Que uma vez foram minhas.

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Loving is having an incandescent volcano exploding unstoppably on the mount,
And having the breast heaving with emotion;
Is wanting to have the other on, under, near, inside, and the heart violently pound
And the lips thirsty of passion.

But loving and not having is to feel all the pain of the world weighing in the soul;
Is walking lonesomely amidst the throng and convulsively cry with sadness;
Is being a shepherd herding stones in the desert and drowning in valleys perched.

Loving is wanting to sing and having not the voice strong enough to tear the chest;
Is feeling like a god capable of creating worlds and fill everything with celestial things;
Is being an angel watching innocent dreams and being filled only with good feelings.

But loving and not having is losing the voice in a voluntary muteness,
In the unwillingness to speak or to make ourselves heard;
Is shouting and tearing the soul and the heart – but only in the inside,
Unbeknownst to everybody else;
Is seating on the rocks at Humaitá lighthouse and being unable to see beauty in the sunset;
Is not getting completely lost in the beautiful colors of the dusk.

Loving is turning the darkness of the night into party lights and shinning stars;
Is living in eternal days, in harmony, making suns and crystal mornings;
Is wanting to dance when there’s no music and awaken the most beautiful gift God has never bestowed men.

But loving and not having is to pray gloomily as the one who’s lost his faith and hope;
Is becoming solitary and not getting touched by the innocent tenderness of a child;
Is walking dragging chains as the cursed soul haunting the earth;
Is having an endless war destroying every single illusion.

Loving is feeling magnificent and having eternity on the palms of our hands;
Is being inundated with the universe, the voice of the Eternal and spiritual songs;
Is contemplating with passionate eyes the ugliness of existence
And being able to give lessons of peace from violence scenes;
Is living in bliss, in constant rapture, with thoughts coming and going towards the one we love.

But loving and not having is to live in despair
With every thought for the loved one coming back void, trembling in the bosom;
Is contemplating the Paradise and not being able to reach it as in the ancient parable.
Loving and not having is going mad every day
And having, at every minute, a somber face with no traces of laughter.

Loving is turning simple, ordinary words into poetry;
Is running through fields of carmine roses and being lost in unrestrained happiness.
Loving is feeling what I feel for you at every passing moment;
But loving and not having your beautiful eyes or your angelic smile, is withering in our primes;
Is seeing all the grace and all the best features that one day belonged to me fading into the face of Death.

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domingo, fevereiro 08, 2009

Barco a vela / Sailing boat

A minha vida é um barquinho de vela vermelha
Velejando sobre o mar azul.
Às vezes encontra um porto e às vezes só o vento
Frio lhe faz companhia.
De dia, o sol lhe ilumina o caminho;
De noite, vêm a lua e o cruzeiro do sul.
Mas antes que se acostume, nasce o dia
E novamente as estrelas o deixam sozinho.
Minha vida é um barquinho de vela vermelha sobre o mar azul.

Eu pensei haver chegado a uma enseada de águas claras e cristalinas.
Baixei as velas e fiquei a ver a paisagem e o verde das colinas.
Foi lá que encontrei à tarde um rosto terno e um querer-bem eterno
Que me invadiu o peito e me fez livre como as gaivotas cortando o céu,
Brilhante como o rosto da noiva ao tirar do véu, como a primavera após o inverno.
Mas a minha vida é um barquinho de vela vermelha velejando o mar azul.

Qual foi o vento, qual foi, que te trouxe e te levou tão de repente?
E aqueles olhos teus felizes e o meu riso contente 
Parece para sempre ter extinguido?
Às vezes eu me lembro daquele porto e do último beijo, corrido,
Que nos demos. Se eu soubesse, meu Deus, se eu soubesse!
A minha vida é um barquinho solitário sobre o mar azul.

Dentro de mim há tempestades e furacões terríveis
Que só o teu abraço, o teu cuidado, o teu querer-me podiam conter.
Agora, velejando sobre o mar solitário, o meu barco é um esquife
Onde quero adormecer e sonhar por auroras e pelo anoitecer
Até que a vida passe e essa vontade de tocar-te os lábios acabe.
A minha vida é um barquinho de velas desbotadas sobre o cinza do mar.
E eu não sei, indo assim à deriva, quando ele vai retornar.

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My life is a little red sails sailing boat crossing the blue sea.
Sometimes she finds a port, sometimes the cold wind is her only company.
In the day, the sun lights her way;
At night she sees the moon and the South Cross come.
But, before she gets used to their presence, the day breaks, and again,
The stars leave her alone.
My life is a little red sails sailing boat crossing the blue sea.

I thought I had reached a bay of pure and clear waters.
So, I brought down the sails and sat to watch the landscape and the green hills.
There, at dusk, I met a tender face and an eternal love
That stormed into my heart and made me free as seagulls in the sky;
Bright as the bride’s face unveiling her countenance, like spring after the winter.
But my life is a red sails sailing boat crossing the blue sea.

Which wind was it, which one, that brought you and so suddenly took you away?
And those happy eyes of yours and my contented smile
Seems forever to have waned?
Sometimes I remember that port and that last hasty kiss.
If I had known, God, had I known better!
My life is a lonely sailing boat crossing the blue sea.

Within me there are terrible tempests and hurricanes
That only your embraces, your care, your desire for me could tame.
Now, sailing the solitary sea, my boat is a coffin
Where I want to fall asleep and dream throughout dawns and dusks
Until life passes by and this longing to kiss your lips be finished.
My life is a little bleached sails sailing boat on the gray sea.
And I don’t know, drifting as she is, if one day she’ll return.

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sábado, fevereiro 07, 2009

Um poema de amor / A love poem

Eu queria escrever um poema de amor
Que não falasse de tristezas nem de corações partidos
E, em vez da saudade imensa que sinto,
Falasse dos abraços que você me deu e dos beijos roubados
De que você gosta tanto.

Dentro de mim há um querer tão grande
E uma vontade imensa de gritar:
Vai, voz, alcança a alma de quem me fez rir
Tantas vezes  e me alegrou tanto
E traz de volta para mim aquela voz de anjo
E aqueles olhos de mar.

Eu pus os meus desejos nas asas da andorinha
E pedi a ela que voasse o mundo para te encontrar;
Lhe disse que ao ver você, batesse as asas
Deixando meu amor cair sobre seu coração
E te mandasse de volta pra casa.

Por onde voa, por onde vai a andorinha?
Quais ventos encontrou, qual provação?
Passou pelo inverno, primavera, outono, verão?
Ou está a descansar suas pobres asinhas?

Eu pus os meus desejos nas asas da andorinha
E pedi ao vento que sobre você ela fizesse pouso
E lhe lembrasse que o meu coração não é de carne
É brasa viva e tem a forma do seu rosto.

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I wanted to write a poem of love
That wouldn't talk about sadness or broken hearts,
And, instead of the immense yearnig I feel,
Talked about the times you embraced me and the stolen kisses
That you like so much.

There is such an enourmous longing within me
And a mostruous desire to shout:
Go, voice, reach the soul of the one who made me laugh
So many times, and so many times made me happy
And bring back to me that voice of angel
And those eyes of deep seas.

I put my desires onto the wings of the swallow
And prayed her to fly the world to meet you;
I told her to flap her wings when she saw you
Pouring my love into your heart to send you back home.

Where does the swallow fly, where is it going?
What winds has she found? what hardships?
Has she flown through winter, spring, fall and summer?
Or is she resting her tired wings?

I put my desires onto the wings of a swallow
And asked the wind to help her find home in you
And remind you that my heart is not made of flesh,
But of living coal and that it has the shape of your face.

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quinta-feira, fevereiro 05, 2009

O amor / Love

Dizem que o amor é uma ilusão,
Mas o que eu sinto por você é tão real
Que dói com uma dor profunda, latejante, incessante,
Ardendo na cabeça e no coração.

Às vezes me pego olhando pro nada,
Desenhando rabiscos no papel:
Bocas, barcos, luas, corações e um nome:
Seu nome, que eu sussurro bem baixinho
Pra ninguém ouvir, pra ninguém roubar de mim.

Pronunciá-lo é ter de volta sua boca sobre a minha
E os beijos que você me tomou.
Suspirar ao vento esse nome doce: Meubem, assim juntinho,
É pedir sua presença de volta e dizer ao vento que sopre
Devagarinho minha voz em seus ouvidos.

Naquela tarde sobre o mar, depois que o sol se pôs,
Eu quis ser todo seu, beijar, carinhar, e dizer dois versos.
Eu quis que você soubesse que o amor é uma ilusão, como dizem,
E que por isso eu não te amo. Porque eu, na verdade, te respiro, te sonho,
Te bebo, te sorvo, te durmo e te acordo em mim.
Amar você não é ter ilusão; amar você é estar vivo.

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They say love is a delusion,
But what I feel for you is so much real
That hurts with a deep, throbbing, endless pain
Burning in my head and my heart.

Sometimes I get myself staring the voidness,
Scribbling on a paper:
Boats, mouths, moons, hearts and a name,
Your name, which I whisper in hushed tones
So that nobody will hear, nobody will take away from me.

Pronouncing it is having your lips back on mine
And the kisses you've stolen from me.
Whispering to the wind this sweet name: Meubem, uniting the words like that,
Is asking your presence to be back, and pray that the wind tenderly
Blow my voice into your ears.

That evening on the sea, after the sun had set,
I longed to be all yours, to kiss you, to caress you, and to say two verses.
I wanted you to know that love is an illusion, as they say,
And that being so, I don't love you. Because, actually, I breathe you, I dream you,
I drink you, I absorb you, I sleep you and I wake you up in me.
Loving you is not to have an illusion; Loving you is to be alive.

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segunda-feira, fevereiro 02, 2009

Vagalumes / Fireflies


Eu sigo pelo mundo fazendo o meu caminho
Que às vezes é triste, à vezes é feliz.
Muitas vezes eu choro por causa de pessoas
Que chegaram sorrindo e foram embora sem motivo.

Meu coração, tem vez, é todo riso e todo festa;
Mas em outras épocas, como hoje, ele silencia
E dele só escuto suspiros abafados e,
De quando em quando, nem isso.

Saí à noite procurando vagalumes
E me perdi na escuridão dos bosques.
Mas eu queria mesmo era alcançar
Aquela estrela brilhando sozinha lá no céu
E tilintando sobre o mar ao correr atrás das ondas.
Assim, nem ela nem eu correríamos atrás de lumes ou de vagas.

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I wander around the world making my way,
Which sometimes is sad and sometimes happy.
Many times I cry because of people
Who came smiling but left with no reason.

My heart, at times, is all laughter and party;
But some other times, like now, it keeps silent
And from it all I hear are stiffled whispers and tears,
And at times not even these.

I went out at night searching for fireflies
And got lost in the darkness of the woods.
But what I really wanted was to reach
That star shining alone up there in the sky
And flickering on the sea as it runs after the waves.
Thus, neither she nor I would run after breakers or lights.

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domingo, fevereiro 01, 2009

Adeus / Farwell

Minha alma é um mar de recordações
E as ondas que quebram  no cais são sempre memórias suas
Que me trazem seu sorriso, você dançando naquela festa,
Seus olhos brilhando e o seu desejo.

Eu quis me afogar neste mar e dele beber eternamente.
Quis respirar, sorver, fruí-lo todo, estar inundando de você:
Eu quis tanto tudo de você!
Agora estou sentado no cais onde as ondas continuam quebrando,
molhando meus pés, mexendo comigo - mas eu quero viver!

Vejo além do cais, um barco à vela
Ao qual, o vento passando, sopra devagarinho pro horizonte
Levando suas velas para longe de mim.
Eu vou vendo o mar, o vai e vem das ondas e o barco partindo
Enquanto eu, com olhos serenos, lhe sussurro adeus.

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My soul is a sea of memories
And the waves breaking at the pier are always thoughts of you,
Which bring me your smile, you dancing at that party,
Your eyes shining and your desire.

I wanted to drown in this sea and drink from it eternally.
I longed to breathe, to absorb it, to swallow it all, to be flooded of you:
I wanted so much to have all of you!
Now I'm sat at the pier where the waves continue to break,
wetting my feet, touching me deeply - but I want to live!

Beyond the pier I see a sail boat
That the passing wind gently blows towards the horizon
Taking its sails way far from me.
I stare at the sea, the waves that come and go and the departing boat
While me, with tender eyes, whisper a goodbye.

domingo, janeiro 25, 2009

Sem título / Untitled


Eu canto quando estou triste,
Porque a música me alegra o espírito;
E choro quando estou feliz,
Porque a felicidade é sempre breve.

Minha alma não tem peso, é leve
E tem asas abertas como uma ave no céu.
Vem de cruzar rios, mares, universos
E em algum desses lugares ela abarcou a solidão.

Minha alma não tem peso porque a solidão é um vazio,
Uma visão de planícies ocres em centenário estio.
E apesar de sentir tudo, de sofrer tudo, de sorver tudo
Às vezes acho que sou como o topo dum monte íngrime e deserto no verão.

Eu queria correr o mundo a encontrar pessoas em lugares
Incomuns, talvez assim, voando livre e sem rumo
Em vez da solidão, minha alma agora abarcasse um amor sincero,
Um sorriso verdadeiro e as ilusões que perdi em antigos cursos.

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I sing when I am sad
Because music makes my spirit happy;
And I cry when I'm glad
Because happiness is always brief.

My soul has no weight, it's light
And has wings spread open like a bird in the sky.
It comes from crossing rivers, seas, universes
And in one of these places bode solitude to embark.

My soul has no weight because solitude is emptiness,
A vision of beige terrains where for years there has been no rain.
And despite feeling all, suffering all, imbibing all
Sometimes I think I'm like the summit of a mountain in the summer.

I would I could run across the world to meet people of offbeat places,
Thus, maybe, flying free and boundlessly,
Instead of solitude, my soul would embark a sincere love,
A true smile and the illusions I'd lost in my past wanderings.

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quinta-feira, janeiro 22, 2009

Vazio na casa / Empty home


Paredes brancas e teto gelo, portas, janelas, capachos
abajur, cômoda, livros, computador, ventilador, sofá, estante, tapetes
louças, talheres, fogão, geladeira, cadeiras, balcão, bancos, plantas, portas, janelas
filtro, jarras, garrafas, café, leite, sal, açúcar, toalhas de mesa, de prato
comida, água, suco, frutas, cuia de chimarrão
cortinas, porta, ventana, espelho, capacho, pia, vasos, torneiras, choveiro
guarda-roupa, lençóis, TV, estéreo, DVD Player, criado-mudo, Bíblia
filmes, fitas cassete, dvds, violão, caixas de papelão
bibelôs, headphone, ventilador, mp4, pincel, papéis
sandálias, sapatos, calças, cuecas limpas e sujas, camisas
pijamas, amor, saudade, carinho, confidências, beijos
vontade de estar junto, desejo de abraçar, mordidas ternas
mais beijos, mãos pelo corpo, línguas pela pele, olhos de desejo
mais beijos, coração batendo forte, mão no peito
voz dizendo que o coração acelerou
risos, rindo, amando, mais beijos
lençóis sujos, lavanderia, balde, escova de roupa, sabão em pó, amaciante
xampu, condicionador, sabonete
água quente, toalhas de banho, toalhas de cabeça, roupão
monange, escova de dente, colgate, plax, nívea, dimitri
roupa de baixo, calça jeans, meia, sapato, camisa, colar
sorriso, beijo, abraço, lágrima, adeus, beijo, porta batendo
adeus, lágrimas, vontade de beijar, vontade de abraçar
cama, lençóis, travesseiros, lágrimas, soluço, saudade no peito
abandono, saudades, vontade de beijar, vontade de abraçar
paredes brancas, solidão, teto cor de gelo, silêncio, lágrimas, vazio.

ENGLISH VERSION

White walls and ice-like ceiling, doors, windows, doormats
Lamps, bookcases, books, computer, fan, couch, bookshelves, carpets
Dishes, silverware, stove, fridge, chairs, counter, stools, plants, doors, windows
Water fountain, jars, bottles, milk, coffee, sugar, table cloth, dish towel
Food, water, juice, fruit, cuia de chimarrão
Curtains, door, window, mirror, doormat, sink, vases, taps, shower
Wardrobe, blankets, TV, stereo, DVD Player, bed-side table, Bible
Movies, cassettes, dvds, guitar, cardboard boxes
Knick-knacks, headphone, fan, mp4, paintbrush, paper,
Flip-flops, shoes, pants, clean and dirty briefs, shirts
Pajamas, Love, yearning, care, confidences, kisses
Longing to be together, desire to hold tightly, tender bites
More kisses, hands sliding through the body, tongues on skin, leering
More kisses, heart rattling, hands on the torso
Voice saying that the heart is speeding fast
Peals of laughter, laughing, more kisses
Dirtied sheets, service area, bucket, clothes brush, powder soap, rinse
Shampoo, rinse, soap
Hot water, bath towels, head towels, bathrobe
Monange, toothbrush, colgate, plax, nívea, dimitri
Underwear, jeans, socks, shoes, t-shirt, necklace
Smile, Kiss, hug, tear, good-bye, Kiss, door slamming
Good-bye, sigh, tear, longing to Kiss, longing to hold tight
Bed, blankets, pillows, tears, sobs, heart-break
Abandoning, yearning, desire to Kiss, desire to hug
White walls, loneliness, ice-like ceiling, silence, tears, emptiness.

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terça-feira, janeiro 20, 2009

O caminhante / The passer-by

Olho a estrada adiante sinuosa e torturante
como todas as estradas desconhecidas.
Estou na linha do trem, num caminho entre pedras e cascalhos
onde gente sempre gente passou e trilhou
e partiu e sumiu no mundo sem que ninguém soubesse delas.

Quem és tu, ó caminhante, que passas e não deixas marcas?
Quem és tu com estes olhos escuros de lágrimas secas
Que há tanto pararam de correr para fora e ficaram a jorrar rios
Por dentro?
Uma voz me pergunta no meio da noite escura.
Mas eu não tenho resposta. Ah, que amargura!
Não sei responder quem sou!
Mas digo que sou alguém que se perdeu pelo caminho,
Uma alma triste de coração partido por alguém que não soube
O que é amar e se deixar amar.

Um mocho cruza o ar, seu pio rascante é um choro por mim
- Até a natureza chora por mim, mas meu amor, onde estará?
Eu sou alguém que esqueceu os dias e as noites;
Que passou as horas torpes na meditação de um amor ingrato.
Alguém que perdeu a vida, que perdeu a aurora da existência,
Que se embrenhou na mata escura e quem não conseguiu sair de lá.

Quem és tu, caminhante, que cruzas deserto esta estrada erma?
Que passas e falas com esta voz lânguida, cortada, de coisas que acabaram?
Eu não sei responder à voz que me pergunta, eu não sei dizer
Quem sou: quem sou?
Eu sou um par de pernas que andam trôpegas,
Pés desnudos e feridos cambaleando pelo trilho
Nessa estrada que não acaba, essa estrada triste, fria, sinuosa.

E essa voz que fala a mim quem é? de onde vem?
Essa voz tão rascante, tão terrível, tão cheia de uma dor que esmaga?
Essa voz sou eu gritando em mim na solidão da estrada escura
Na solidão dos trilhos do trem que não passa;
Essa voz é o eco da sozinhez, o espectro de quem não tem um outro;
As palavaras que servem de consolo àquele que existe e ninguém vê.

ENGLISH VERSION:

I stare at the road ahead steep and torturing
Like every road unknown.
I am on the railroad, on a way of pebles and stones
Where people always people have passed and trod
And were gone and vanished unbeknownst to the world.

Who art thou that passest without leaving marks?
Who art thou with the sulky eyes and drenched tears,
Which so long ago have stopped pouring out and started to pour within
Like rivers on the inside?
A voice asks me in the middle of the dark night.
But I don't have an answer. Oh, how anguishing!
I don't know to answer who I am!
Nonetheless, I say I'm somebody who's got lost on his way,
A downcast soul with a heart broken by someone who didn't know
What to love and to be loved means.

An owl crosses the sky, its gloomy squeal is a cry for me
- Even nature weeps for me, but where should my lover be?
I am someone who has forgotten the days and the nights;
Who has passed the forlorn hours brooding over an ungrateful love.
Somebody who has lost his life, who has lost his primes,
Someone who has plunged into the woods and couldn't find his way back.

Who art thou, passer-by, who desertly crossest this solitary road?
Who passest and speakest with this drawling, grieving voice of things over?
I don't know to answer the voice that asks me,
I don't know to say who I am: who am I?
I am a pair of legs which walks unsteadily,
Bare and hurt feet wheeling through the rails
Of this endless road, this forsaken, cold and steep road.

And this voice talking to me, who must it be? where does it come from?
This so terrible, somber voice, so full of a squashing pain?
This voice is me screaming within in the loliness of this dark road,
In the solitude of the rails of a train that never passes by;
This voice is the echo of the aloneness, the ghost of he who has no one else;
And these words serve as a solace to him who exists and nobody cares.


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domingo, janeiro 18, 2009

Hoje, mais que qualquer outro dia, não quero pensar em você.
Não quero, em pensamento, sentir seu toque em meu rosto
Nem o deslizar de suas mãos sobre meu peito;
Não quero olhar nesses olhos verdes de mar
Nem ouvir, no íntimo, sua voz doce cantando pra mim.

Mas aqui dentro da minha cabeça essas coisas não vão embora,
E ao meu redor tudo são lembranças:
Livros, músicas, poemas, risadas, gestos, olhares, cheiros!
Beijo outras bocas, mas por mais que as beije, só quero seus lábios.
Busco seus lábios em outras pessoas, procuro seus olhos em outros rostos.
Eu não quero pensar em você - mas o meu querer não importa.

As recordações de nós dois não são muitas, passamos pouco tempo juntos,
E ainda assim é como se tivéssemos nos amado sempre.
Cada um desses momentos que vou revivendo em mim
Se alongam de eternidade em eternidade e na medida que se estendem
Mais real e presente e sempre você se torna.

Hoje, mas que qualquer outro dia, eu não quero pensar em você.
Porque, pensar em você, significa desejar que esteja onde não está:
Em meus braços, ao meu lado, me olhando doce nos olhos.
Eu não quero pensar em você - quero que esteja aqui!

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sábado, janeiro 17, 2009

areia e vento

O que dói não é você falar que não pode me querer;
O que dói é não ver seus olhos me observando com interesse,
Com você atrás de mim me vendo andar e sorrindo enquanto sigo;
Dói mesmo é ver que parece tão fácil me dizer adeus,
Não querer minha boca na sua, nem meu corpo junto ao seu.

Sabe aquelas horas em que estávamos juntos,
Só você e eu e os lençóis e as palavras e sussurros de carinho?
É fácil esquecer isso? para mim não é - ainda sinto tudo, vejo tudo,
Ouço tudo, bem aqui, bem na minha pele.
Minha vontade é perguntar "por quê?",
Mas tem coisas que não se explicam, não é?

Não se explica, por exemplo, eu me apaixonar,
Eu querer estar ao seu lado,
Eu desejar seus lábios,
Eu pensar em você o dia inteiro à revelia da minha vontade.
Não se explica essa sensação cortante de perda,
Nem essa angústia imensa,
Esse sentimento de que arrancaram meu coração
E essa estranha impotência de sequer poder pedir a Deus que me ajude.

Eu tinha tanto a lhe dizer - mas só ao pé do ouvido!
Eu sonhei tantos sonhos e criei tantas ilusões sobre nós.
Mas as minhas ilusões são assim:
Um punhado de areia branca no topo de uma montanha
A que o vento vem e vai soprando, soprando, soprando
E leva embora tudo o que eu quis - foi sempre assim -
Por que seria diferente com você, não é?

O vento soprou você, foi criando um outro punhado de areia
No topo do monte de outra pessoa.
Tomara que um dia, sem querer, ele mude de direção
E mande você de volta pra mim.

quinta-feira, janeiro 15, 2009

...

Se há tristeza em meus olhos, eu não sei, eu não vejo.
O que vejo são não sei definir:
Por isso ando sem rumo pelas calçadas quebradas;
Por isso paro a ver o pôr-do-sol
e as estrelas tremelicando no céu que se desfaz em tons de luz sumida.

Às vezes dá um desespero tão grande me mastigando o peito,
Dilacerando minha alma que eu só penso em correr,
Gritar, bem alto, porque chorar não adianta mais:
Já chorei e ninguém ouviu.
De onde vem a dor e a insônia?
Será que sofrer é mesmo evitável?
Não sei Drummond, só sei que dói e é tão pungente!
Olhando ao redor só há o desamparo.

Sinto como se caísse num precipício cujo fundo não alcanço;
É um fosso onde prantos, sussurros, pedidos de socorro
se perderam para sempre e ninguém jamais ouviu.

Você diz que em meus olhos há tristeza,
Mas você não quer mesmo saber de onde ela vem;
Se quisesse, cuidaria de mim, me poria no colo, me embalaria nos braços,
Tocaria meu rosto com os dedos suaves e meus cabelos sentiriam
Suas mãos macias fazendo remoinhos ternos.

Então não me pergunte o por quê,
Apenas me deixe continuar correndo, sem rumo,
Por essa estrada tão suja e rota e quebrada
Que é o caminho de minhas emoções arrebatadas.


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